quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A mais nova fragrância do desrespeito


Na semana passada, o Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária (Conar) pediu que a marca Axe, da Unilever, alterasse uma peça publicitária veiculada na fanpage no Facebook. O porquê da chamada? Linguagens visual e verbal ofensivas às mulheres.

Veiculada especificamente em versão brasileira, a peça caiu na rede no dia 1º de agosto e pretende promover as duas novas versões de desodorante, a prata e a preta. O anúncio mostra dezenas de mulheres sensuais usando lingerie, deitadas em várias posições, ao redor de um homem que faz cara de satisfeito. A falta de tato se completa com a frase de efeito: “Misture-os e acumule mulheres”.

Em nota de defesa ao Conar, a marca argumenta que a imagem não é inapropriada para a faixa etária permitida para uso do Facebook – isto é, acima de 18 anos – e os anúncios desenvolvidos para promover o novo produto têm uma linguagem jovial e bem-humorada.

Acumular mulheres como quem coleciona figurinhas? Pelo visto, a equipe publicitária da Axe anda vendo bom-humor demais onde, na verdade, existe uma lacuna abissal a ser preenchida com respeito. E, se a parte do “jovial” está contida na ideia de que todas as “gatas” vão “cair na sua rede”, assim tão fácil, é porque realmente não há limites quando o assunto é subestimar a inteligência do consumidor.

Não é a primeira vez que anúncios da Axe tratam mulheres como pares de seios colecionáveis. Pedir pela alteração dessa peça específica é uma atitude correta e emergencial, mas, convenhamos, também é paliativa. O que precisamos é de leis que regulamentem campanhas publicitárias. Só assim se pode frear a livre concorrência de empresas que, em pleno século vinte e um, insistem em acumular machismo.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Menos falsos padrões, Mais Mulher Gato

A versão original e a versão atual da CatWoman Zero

No dia 09 deste mês, a DC Comics, grande editora norte-americana de histórias em quadrinhos, anunciou que a ilustração de capa original da HQ Catwoman Zero passaria por “sutis modificações”, devido à polêmica causada pelo conteúdo extremamente sexy.

A primeira versão da arte mostra Selina Kyle – a Mulher Gato – numa posição anatomicamente impossível, de modo que os seios seminus e as nádegas “emplastificadas” não se deixem ignorar. A Guillem March, o autor da “façanha”, foram solicitadas as devidas alterações. Na nova versão – ainda sensual, mas não mais pateticamente apelativa – fecharam o zíper acima dos seios da personagem. Além disso, ela agora aparece de joelhos, e não daquele jeito estranho, tipo Mulher Elástica.

A reformulação não agradou a todo mundo. Para alguns fãs de quadrinhos, tratou-se de censura. Censura? Ou será que reelaborar com mais responsabilidade e bom senso alguns detalhes da arte-matriz é algo digno e legítimo? Será que vale a pena continuar estrunchando personagens femininas em nome da continuidade do estereótipo construído para agradar a olhos e pélvis masculinos-heterossexuais?

A “armadura desprotetora” e as curvas superdefinidas continuam disfarçadas de “traços da personagem”. E muitas das mulheres voadoras, superpoderosas e exterminadoras do mal ou do bem, nos quadrinhos, continuam injetadas de padrões fictícios, que insultam a personalidade e a beleza multiforme das mulheres que vão até a banca de revistas adquirir uma HQ.

A nova Mulher Gato da capa não chega a ser um referencial anti-machista na cultura pop. Mas a atitude da DC Comics de reformular detalhes grotescos e ofensivos é, no mínimo, animadora.

sábado, 19 de maio de 2012

Resenha do filme "Sentidos do Amor"


Escrevi a resenha como exercício para a disciplina Jornalismo Impresso II, ministrada pelo professor Ronaldo Salgado.

Sentidos do Amor vai além do “drama-casalzinho”
Beatriz Costa Ribeiro

As sutilezas intimistas do drama romântico e a universalização agressiva da ficção científica. Em Sentidos do Amor (Perfect Sense, 2011, BBC Films/Zentropa Entertainments/Sigma Films, 92 minutos), a variedade de gêneros dialoga e se entrelaça. O filme, do diretor escocês David MacKenzie, estreou no dia 07 de outubro em apenas 59 salas de cinema do Reino Unido. A proposta audaciosa, premiada no 2011 Sundance Film Festival, atiçou a curiosidade do público, arrecadando mais de 21 mil euros no fim de semana em que foi lançado.

Sentidos do Amor conta a história de duas pessoas de personalidades muito diferentes que se apaixonam durante um episódio em que, nos quatro cantos da Terra, uma misteriosa epidemia vai se espalhando. No começo, as pessoas têm uma repentina crise de angústia, seguida da perda do olfato. Depois, um surto de desespero e uma fome descabida introduzem a perda de mais um sentido: o paladar. Num momento de fúria, as pessoas perdem, então, a audição. Por fim, com o cenário mundial devastado, o último surto psicológico mergulha as pessoas num sentimento de paz, perdão, amor, e então elas perdem a visão. É nesse contexto que a cética epidemiologista Susan (Eva Green) e o chefe de cozinha bon vivant Michael (Ewan McGregor) aprendem, juntos, a se compartilhar e a lidar com a luta diária pela continuidade da vida.

O drama transbordante e o amor romântico com passagens de erotismo nos transportam para uma obra anterior do mesmo diretor, Pecados Ardentes (Young Adam, 2003). Ewan McGregor, que interpreta o personagem central em ambos os filmes, mantém a facilidade de transmitir o desespero contido e a confusão, abusando de cenhos franzidos e lábios crispados. Em Sentidos do Amor, o ator encarna o personagem com maestria e “vive” cada momento de amor, desespero, raiva, conformismo, tudo em medidas certas de exageros e contenções expressivas. Eva Green se permite lançar alguns belos sorrisos e muitos olhares cortantes, o que a enquadra numa boa performance dramática. Apesar disso, a atriz não desempenha um papel mais que “razoável” quando se trata das demandas teatrais, em cenas como as dos surtos psicóticos, em que cada expressão e movimento contam pontos.

A construção imagética da trama dramático-romântica dentro do contexto apocalíptico da ficção científica é de extrema sensibilidade. Considerando que se trata de uma obra em 2D, que conta somente com apelos visuais e sonoros, representar a presença e – principalmente – a perda repentina de sentidos não é tarefa fácil. MacKenzie, porém, desempenha-a com sucesso, usando de técnicas criativas de sequenciação e enquadramento. Cortes de áudio, vídeo embaçado, planos superaproximados, close-ups na boca que mastiga sem sentir gosto, no nariz que inspira sem sentir cheiro, transmitem uma percepção estendida não somente das etapas da “doença” em si, mas principalmente do resultado que elas vão causando gradativamente no modo que as pessoas percebem o mundo e lidam com a vida e as pessoas que lhes restam.

A temática “apocalíptico-epidêmica” conduz a compreensão da trama como romance e como drama, nunca se sobrepondo ou se reduzindo perante o núcleo principal - nesse caso, Susan e Michael. A história do par romântico, porém, não é “egoísta”, superexplorada, alheia aos acontecimentos do mundo que os rodeia. Cenas em sequência nervosa, nas quais personagens sem nome de vários lugares do planeta vão sendo atingidos pela epidemia, guiam a percepção da dimensão do acontecimento como um todo. Essas cenas são, ao mesmo tempo, elemento relevante para compreender a complexidade do momento em que se desenvolve a história de amor.

O jogo com o significado da perda dos sentidos deu origem a uma obra sensível em sua essência. Sentidos do Amor nos distancia de divagações superficiais quanto ao temor de não ver, não ouvir, não sentir gosto ou cheiro, aproximando-nos de reflexões sobre sentimentos mais complexos, como o amor à vida e ao próximo. Profundo, belo e arrepiante. Adorá-lo faz todo o sentido.


Veja o trailer:

sábado, 14 de abril de 2012

Punir agora para educar quando?

A estátua da Iracema Guardiã, localizada na orla turística de Fortaleza e considerada um dos mais significativos cartões postais da cidade, amanheceu depredada no dia 21 de março. As mãos vazias dela foram serradas durante a madrugada. Vazias porque, menos de uma semana antes, o arco que seguravam foi encontrado no chão e levado por agentes da Prefeitura. Sobrou lá uma feia virgem dos lábios de mel para representar o célebre romance do autor cearense, José de Alencar.

Diante de tais casos de depredação, aciona-se a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, que trata de checar o sistema de câmeras de segurança, a fim de identificar e punir os autores da façanha. Mas será que apontar o dedo para quem apareceu nos monitores, tachá-lo de “vândalo imbecil” e o jogar no fundo de uma cela é a melhor forma de construir uma consciência cidadã acerca da importância social e histórico-cultural atrelada ao patrimônio público da cidade?

Segundo o artigo terceiro da Lei Municipal Nº 9347, “compete a todo cidadão preservar o patrimônio histórico-cultural e natural, zelando pela sua proteção e conservação”. E à Coordenação de Patrimônio Histórico-Cultural, órgão que integra a Secretaria de Cultura de Fortaleza, cabe elaborar políticas públicas de educação patrimonial, além de também o preservar e proteger.

O que acontece, porém, é que, numa cidade que dispõe de legislação e equipamentos específicos, além de uma ampla rede de ensino público, ainda falta educar os cidadãos quanto à preservação e ao uso apropriado do patrimônio público. Dizer que aquela estátua está ali só porque chama turista e não é pra “bulir” nela é uma coisa. Explicar a importância da figura de Iracema na cultura da cidade, fazendo referências a passagens da narrativa literária cearense, é outra completamente diferente.

Dispondo de poucas ou nulas campanhas de conscientização e aulas direcionadas nas escolas de ensino fundamental e médio, os fortalezenses, pessoas comuns que vemos e somos, seguem subindo no pedestal de um monumento, arrancando a pintura do banco de um ponto de ônibus, pichando, por diversão, um muro recém pintado. Seguem mal cuidando dos bens públicos que dispõem. A falta não é exclusiva daquele garoto com uma lata de spray na mão, da menina que escreve à caneta seu nome no banco do ônibus, ou mesmo de quem serrou as mãos da Iracema Guardiã. A falta é também – e antes de tudo – de uma administração municipal que se abstém da responsabilidade de mostrar à população as dimensões do valor sociocultural negativo do ato de depredar.

O vândalo – usando do tom devidamente agressivo que o termo demanda – surge da falta de orientação. Identificação e punição dos transgressores se fazem necessárias, mas as autoridades administrativas devem encará-las como medidas posteriores à realização de ações educativas que expliquem à população por que e como zelar pelo patrimônio público da cidade. Para construir uma Fortaleza Bela é imprescindível formar cidadãos conscientes, que possam trabalhar junto às autoridades competentes.

por Beatriz Costa Ribeiro

quinta-feira, 8 de março de 2012

A identidade da mulher nas revistas “Capricho” dos anos 60 e na atual

Capas: Capricho em 2010 e em 1960.
Aproveitando que hoje é o Dia da Mulher, posto aqui um artigo acadêmico sobre a construção da identidade feminina que eu, a Bia e nossa amiga Camila Mont'Alverne escrevemos há algum tempo. Nesse artigo, a gente analisa mais especificamente a construção da identidade da mulher na revista Capricho, comparando algumas edições atuais da revista com edições publicadas nos anos 60. O trabalho foi apresentado em 2011 no Intercom, o Congresso Brasileiro em Ciências da Comunicação.

O artigo na íntegra está disponível no site do Intercom.

Governo do Ceará discute Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres

A Coordenadoria de Políticas Públicas para as Mulheres do Estado do Ceará, em parceria com a Secretaria Especial da Copa 2014 e do Instituto Maria da Penha, promove hoje (08) solenidade em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. O tema do encontro é o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres e seus resultados no estado do Ceará.

A solenidade, que contará com a presença de Maria da Penha, acontecerá no Auditório Blanchard Girão, no Castelão, a partir das 17h. Logo após a palestra de abertura, Tião Simpatia, repentista, fará show "Mulher de Lei".


O Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres

A violência contra as mulheres ainda é uma realidade freqüente no Brasil. Segundo a Pesquisa Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil 2011, realizada pelo Instituto Avon/Ipsos, seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica e 27% das mulheres entrevistadas declararam já ter sido vítimas.

Lidar com esse problema envolve relações afetivas, projeto de vida, dor, vergonha e humilhação. A adoção de políticas públicas, de caráter universal e acessíveis a todas as mulheres se faz necessária.

Com objetivo de previnir, proteger e garantir os direitos das mulheres em situação de violência, bem como o combater a impunidade dos agressores, o governo federal lançou, em 2008, o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres.

Ações nas mais diferentes esferas da vida social estão sendo implementadas, como, por exemplo, na educação, no mundo do trabalho, na saúde, na segurança pública, na assistência social. O Pacto recebeu como recurso inicial R$ 1 bilhão.

As políticas públicas desenvolvidas no Pacto são direcionadas prioritariamente às mulheres rurais, negras e indígenas em situação de violência, em função da dupla ou tripla discriminação a que estão submetidas e em virtude de sua maior vulnerabilidade social.

domingo, 4 de março de 2012

Blog: uma ferramenta para o Jornalismo


O artigo "Blog: uma ferramenta para o Jornalismo", de André Borges, levanta questionamentos relevantes relacionados à consolidação do blog no cenário do jornalismo produzido na atualidade.

O autor opta por descrever uma espécie de cronologia da popularização de tal ferramenta digital, preocupando-se sempre em retratar os argumentos “a favor” e “contra” esse processo e em evidenciar que ainda há grandes questões a se debater acerca do assunto.

O fenômeno dos diários virtuais, ou simplesmente blogs, começou a ganhar impulso a partir dos anos 2000. No começo era mais utilizado por crianças e adolescentes, que, usufruindo da proposta inicial da ferramenta, escreviam desabafos e comentários desconexos sobre seu cotidiano. Mas o fato é que, nos últimos anos, o blog passou a representar uma nova realidade da Literatura e, sobretudo, da Comunicação Social.

Críticas a essa nova forma de se expressar por meios eletrônicos não são poucas. Uma parte dos profissionais mais “tradicionalistas” do jornalismo investe contra o que chamam de falta de técnica no processo da produção jornalística de tal ferramenta: “Falta de organização das notícias, limitação de diversidade de fontes, pouca periodicidade, baixa confiabilidade e ausência de compromissos com o leitor”. De fato, tais argumentos estão perdendo a razão diante da crescente proporção de profissionalização de seus adeptos, incluindo cada dia mais, não só “cidadãos comuns”, mas também profissionais atuantes na própria imprensa tradicional.

Os blogs expressam uma grande fonte de notícias e críticas, vindas de pessoas de qualquer parte do mundo, que desejam e necessitam veicular informações e lançá-las à rede de computadores, ou seja, representam, fatidicamente, o fim da exclusividade do jornalista na veiculação tradicional dos fatos. O cidadão, através de seu blog, atua como um novo elemento na estrutura midiática, por meio de críticas e debates acerca daquelas informações que consome pela “grande mídia”. Assim sendo, o “blogueiro” desenvolve uma linha de raciocínio que tende a personalizar a notícia, por exemplo, de um grande jornal e atrair opiniões semelhantes a sua. Mas um ponto que ainda deve ser debatido é o fato de que, apesar de toda a liberdade de expressão, veiculação e crítica gozada pela sociedade incluída digital, suas discussões são quase exclusivamente pautadas no conteúdo da grande mídia, o que, na realidade, ainda não representa um sinal de que o Jornalismo exercido na sociedade já é incontestavelmente democrático e, acima disso, plural.

O autor discute também a questão dos reflexos da “onda digital” principalmente na imprensa tradicional. A crise dos meios impressos de comunicação, vem se intensificando com a consolidação das novas mídias. Uma conseqüência disso é o fato de a publicidade – que “banca” o jornal – estar se evadindo cada vez mais para as mídias online. Com o decréscimo no número de leitores do formato impresso, a mídia tradicional passou a investir no mundo da notícia via internet, por meio dos conhecidos portais de notícias, e, assim sendo, já dominam o conteúdo jornalístico da web. Mas essa audiência não implica na suficiência do retorno lucrativo para essas empresas de comunicação, que, comparando com aos números anteriores relacionados aos assinantes dos impressos, são preocupantemente baixos.

O desenvolvimento de blogs, além de poder ser uma alternativa lucrativa – se atrelada a pacotes publicitários, divulgação e, acima disso, compromisso com o leitor – para comunicadores profissionais e “potenciais”, representa uma forma de construção da informação cada vez mais heterogênea, autônoma e descentralizada.  Ao mesmo tempo que oferece possibilidade de combate à suposta superficialidade da cobertura jornalística tradicional, cria uma estrutura bem mais dinâmica de estreitamento no relacionamento entre jornais e seus leitores e entre leitores e seus leitores.

André Borges desenvolve seu artigo por meio de uma linguagem simples e objetiva. Ele conclui seu pensamento observando que as relações entre blogs e jornais e entre o blogueiro e a democracia comunicativa ainda são incertas, mas que não há dúvidas de que, usando de suas palavras, “lá estarão milhares de blogs para dar a notícia”.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Revista Time de Fora diagramada

Logo no segundo semestre do curso, em 2010, ainda aprendendo a mexer no InDesign, diagramei essa revista para um exercício de Programação Visual. Como a tarefa pedia apenas um exemplar diagramado, com texto falso, a Time de Fora foi idealizada com um conceito simples: um revista sobre esportes, com um foco um pouco distante do futebol.

Para visualizar a Time de Fora, é só clicar aqui.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Chris Anderson e o "futuro dos preços"


No livro Free: O futuro dos preços, Chris Anderson traz a discussão da inserção do Grátis num novo modelo econômico que vai se moldando no século XXI. Não é necessário ressaltar as proporções da importância do uso de novas tecnologias nas empresas que concorrem no mercado moderno. O foco agora é analisar a forma de pensar empreendedorísticamente nesse contexto. E a forma mais viável de equilibrar boa reputação/repercussão a boas somas em dinheiro é usar do Grátis em seus negócios.

“Dar muitas coisas para ganhar dinheiro com algumas poucas” é o pensamento de empresas como o Google, que oferece tantas ferramentas – dentre elas editor de textos e planilhas, o Google Maps, Earth, Books, caixa de emails e muitos outros – gratuitamente, para ganhar dinheiro – e dinheiro muito – simplesmente com o sistema AdWords de venda de espaço para anúncios relacionados a determinadas palavras buscadas. Elaborar uma estratégia de cativar o público, de criar o que ele deseja utilizar, deve vir a frente mesmo de monetizar o produto, afinal de contas, o dinheiro só vem se interessar a alguém adquiri-lo.

Na Cultura do Grátis, algumas empresas oferecem serviços/produtos sem custo algum como uma forma de testar ideias novas, e, indo além, existem outras que utilizam o Grátis não como um passo intermediário para consolidação de um modelo próprio de negócio, mas como “a essência de sua filosofia de produto”. De novo o Google: é com a gratuidade de suas ferramentas e do acesso à informação que a empresa ganha dinheiro.

Diante do quadro global de redução de custos, proveniente do compartilhamento P2P e inovações tecnológicas, dar ênfase ao Grátis pode representar a melhor forma de “atingir o maior mercado possível”, desde que se consiga atravessar seu maior obstáculo: como converter toda a boa reputação em dinheiro. Distribuir o serviço sem custo em vários nichos de atenção do consumidor e/ou atrelá-lo a produtos complementares – que tendem a ser consumidos juntos – são opções de estratégias de maximização de mercado consumidor e, ao mesmo tempo, lucrar com o grátis. Mas um ponto interessante que o autor toca é que conseguir ganhar dinheiro usando o grátis como aliado não é tão simples como o Google faz parecer ser. Se não parar e analisar suas posições e possibilidades após criar um público sólido, a empresa tende a estacionar como simples – porém ampla – distribuidora de produtos por compartilhamento, não um negócio que gera dinheiro.

Trabalhar com o Grátis, principalmente na Internet, é enxergar possibilidades de lidar com números enormes de quantidade e variedade de públicos, o que se deve fazer é ver que eles têm necessidades específicas a serem atendidas. O impacto econômico mais evidente está na “transformação de indústrias de bilhões de dólares em indústrias de milhões de dólares”: o Grátis inegavelmente reduz o retorno financeiro, porém aumenta em muito valores que não se mensuravam no antigo modelo econômico – como o conhecimento coletivo, a participação. Ou seja, a riqueza das antigas empresas “analógicas” não simplesmente desaparece, mas é redistribuída e ganha novos valores, que não apenas o financeiro. As novas empresas tomam consciência disso, adotam estratégias para dar para as pessoas o que elas querem e lidam com um modelo mais monetarizado de negócios só quando precisam.

Mas então vem a ideia do paradoxo do Grátis. No mercado tradicional, as possibilidades de concorrência com empresas de grande porte era bem difícil, por serem mercados segmentados por preço e qualidade. Já no modelo econômico da largura de banda, da Internet, do Grátis, apesar da maior diversidade de produtos, porém pouca diversidade de preços, o mercado tende a ser do tipo “o vencedor leva tudo”. É como se as barreiras de participação do mundo dos negócios fosse bem baixa, mas, para prosperar – no sentido de ficar bilionário como os criadores do Google –, ainda se fazem necessárias estratégias bem definidas para “monetizar o desmonetizado”, sem, contudo, comprometer todo mercado do Grátis – isto é, sem o objetivo de “quebrar” as outras empresas – que é bem mais interligado e interdependente que o antigo.

Chris Anderson, em Free, faz um apanhado sobre os efeitos do Grátis na economia moderna nos faz enxergar a influência de tal estratégia mercadológica inédita e ainda polêmica, mas que vai tomando forma e se difundindo rapidamente na vida dos produtores/consumidores da Era digital.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Resenha de "A Cauda Longa"

A Cauda Longa, de Chris Anderson
A Cauda Longa é um best-seller do escritor norte-americano Chris Anderson que analisa como o mercado de nichos está substituindo o mercado de hits na nova economia.

Chris Anderson inicia A cauda longa mostrando como a economia agora volta-se do mercado de hits para o mercado de nichos. Antes, o consumidor de entretenimento orientava suas compras pelas listas dos mais vendidos, produtos que estão na “cabeça” dos gráficos de venda das lojas. Hoje, percebe-se que os produtos da cauda, aqueles que não despertam interesse suficiente para estarem nas prateleiras das lojas, têm uma enorme importância no mercado. 
 
Com o surgimento de novas tecnologias e lojas on-line – Anderson usa o exemplo de lojas de livros e cds, como a Amazon e Rhapsody -, em que o gasto com espaço não é necessário, a oferta passou a ser muito maior. Ou seja, o consumidor agora consegue encontrar aqueles produtos que, por falta de espaço e de demanda, as lojas “físicas” não ofereciam. O grande número de itens da cauda longa, mesmo que eles tenham pouca demanda, é o que garante a importante participação deles no lucro das empresas on-line.
 
Anderson compara o exemplo dessas lojas on-line a outros sites. Segundo ele, a cauda longa também é parcialmente responsável pelo sucesso de sites como Google, que garante boa parte de sua receita com pequenos anunciantes, e eBay, que explora produtos de nichos, expandindo seus mercados.
 
Para falar da democratização das ferramentas de produção, o autor usa o exemplo das descobertas feitas por conta da união entre astrônomos amadores e profissionais, a partir do momento em que certos equipamentos, como telescópios, se tornaram mais acessíveis e a internet surgiu como mecanismo para troca de informações.
 
Essa interação e o compartilhamento de informações que contribuíram para os avanços na astronomia são características marcantes da web 2.0, um termo que não é diretamente citado por Anderson. O advento de softwares e serviços simples – as ferramentas de produção – transformou o internauta de consumidor passivo para produtor ativo. Hoje, é fácil montar um blog, ter acesso a programas como os de edição de fotos e de vídeos. Esse pensamento pode ser resumido na seguinte frase do autor: “quando as ferramentas de trabalho estão ao alcance de todos, todos se tornam produtores.”

O escritor norte-americano Chris Anderson

Poucas pessoas mantêm um blog ou postam seus vídeos no youtube por dinheiro, e sim pelo prazer de fazer aquilo. A Internet mudou a indústria musical, por exemplo. Uma banda não depende mais de sua gravadora para fazer sucesso. Há diversos exemplos de bandas que ficaram conhecidas apenas por meio de divulgação na Internet. Claro que, do montante que é colocado na rede diariamente, é preciso saber separar o bom do ruim. Mas essa troca de informações, a propaganda “link a link” e a cultura do “faça você mesmo” proporcionaram o surgimento de inúmeros novos artistas, que agora são capazes de alcançar um número muito maior de pessoas.
 
Anderson também discorre sobre o fenômeno da wikipedia e sobre o poder da produção colaborativa, características da web 2.0. Segundo ele, a wikipedia, o google e o universo dos blogs funcionam de acordo com a lógica da estatística probabilística. O sistema não é perfeito, mas se trata mais de probabilidade do que de certeza. Ou seja, apesar de, isoladamente, existirem falhas nos verbetes, quando se leva em conta todos juntos, eles se tornam mais eficientes do que as enciclopédias de papel, por exemplo. Esse tipo de sistema probabilístico se beneficia da inteligência coletiva.
 
Os possíveis erros presentes na wikipedia podem ser mais rapidamente consertados, diferente do que acontece com as enciclopédias. E esse é o grande trunfo da wikipedia: por ser criada pelos próprios usuários, ela está em beta perpétuo, constante atualização. O fato de não ter um limite físico e permitir o uso de recursos como fotos, gráficos e hiperlinks, além da produção colaborativa, a torna única. A wikipedia pode funcionar como ponto de partida, mas a pesquisa não deve terminar ali.
 
Anderson considera os blogs como uma espécie de cauda longa. Eles são, portanto, de conteúdo variável e funcionam como uma fonte de informação diferente da mídia tradicional. Apesar de ser necessário “filtrá-los”, já que alguns exibem conteúdo repetido, encontra-se nos blogs informações e pontos de vista que não são, por diversos motivos, apontados pela grande mídia.

Teoria da Cauda Longa

Os vídeos amadores colocados no youtube e os verbetes escritos na wikipedia, no entanto, muitas vezes não têm o lucro como objetivo. Na cauda longa, a criatividade e o prazer de fazer aquilo apenas por fazer, sem remuneração, impulsionam o processo. Já na cabeça, o objetivo principal é o lucro. O que estiver localizado entre os dois extremos segue uma combinação desses modelos de economia tradicional e não-monetária.
 
Por esse motivo, a visão com relação aos direitos autorais é diferente e determinada pela posição dos autores no gráfico. Aqueles posicionados na cabeça, como as grandes gravadoras, tendem a não abrir mão da defesa de seus direitos autorais. Ao longo da cauda, porém, a visão é outra. Muitos ali veem como positiva a reprodução e divulgação de seus produtos. Apesar dos diferentes pontos de vista, a lei de direitos autorais não faz essa distinção, o que acaba por tornar confusa a linha que separa pirataria de gratuidade.
 
A economia não-monetária da cauda longa também reflete-se no mercado editorial. Hoje, o valor comercial que um livro possa vir a ter não é mais o motivo principal para que ele seja escrito. A queda nos custos de editoração permite que cada vez mais pessoas possam editar seus livros, que agora passam a garantir lucro mais como reputação e status do que dinheiro propriamente dito.

Ao final dessa parte do texto, Anderson aponta que a cauda longa pode se transformar na “área crucial da criatividade”, já que as ferramentas para isso são baratas e o sucesso comercial não é que norteia seus produtores. Daí, as ideias se desenvolvem e alcançam o topo.


Nesse vídeo, Anderson explica a teoria.



Para baixar o livro, é só clicar nesse link.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Revista Mochileiro diagramada

Esse foi o resultado do exercício de diagramação de revista da disciplina de Programação Visual em Jornalismo, lá do começo do curso, mais precisamente do 2º semestre.
O exercício consistia na aplicação dos conceitos de diagramação e design que tivemos contato durante a disciplina num "esqueleto" estético temático e individual. Para bolar a Mochileiro, me baseei em revistas de turismo e viagens como a Viagem e a Volta ao Mundo, de visual mais clean, com uma paleta de cores mais quentes e muitas fotografias. Vale ressaltar que o exercício era essencialmente estético, isto é, não pedia elaboração de matérias.

Confira a diagramação na minha estante do Issuu:

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Resenha de "O culto do amador"

O culto do amador
O culto do amador, de Andrew Keen, foi lançado em 2007 nos Estados Unidos e publicado em 2009 aqui no Brasil. No livro, Keen defende a polêmica teoria de que a internet destroi a cultura, em vez de democratizá-la, e promove a "ditadura da ignorância". Ele critica de forma negativa algumas características da rede, como a facilidade no compartilhamento - de arquivos ou de ideias - e a cultura do "faça você mesmo".

Em O culto do amador, Andrew Keen tenta provar, de forma bastante extremista, o impacto negativo que a internet vem tendo na economia e nos valores da nossa sociedade. Segundo Keen, em uma comparação com o “teorema do macaco infinito” do biólogo evolucionista T.H. Huxley, o fácil acesso à internet e a cultura de inteligência coletiva que ela traz estão promovendo a criação de “uma interminável floresta de mediocridade”.
Para o autor, a internet e todas as suas ferramentas estão contribuindo para destruição da nossa cultura, economia e valores. Andrew Keen, porém, padece dos mesmos erros cometidos por alguns dos autores pró-internet que critica no texto – o extremismo exagerado, a falta de um meio-termo em relação ao uso da ferramenta.
Ele cita os sites das grandes empresas de comunicação, como a CNN e a BBC, como fonte irrefutável de credibilidade, mas parece esquecer o que há por trás dessas grandes corporações, cheias de critérios subjetivos – fatores políticos, econômicos, a busca pela audiência – que direcionam o que é ou não publicado. O jornalismo, ao contrário do que Keen dá a entender, não é uma atividade praticada de forma isenta. Para ele, o julgamento especializado de editores evita que informações falsas e desrespeitosas, por exemplo, e que teoricamente são divulgadas de forma arbitrária na internet, sejam publicadas.
Keen ainda afirma que alguns assuntos importantes – e ele cita como exemplo uma guerra no Líbano – têm sua publicação garantida na mídia tradicional, ao contrário do que se divulga na internet, que, segundo ele, são apenas informações fúteis e inúteis. Sabe-se, porém, que os meios tradicionais, por suas motivações por vezes obscuras, deixam de noticiar fatos importantes que só se tornam conhecidos no mundo através da internet, como os recentes protestos acontecidos na Espanha. A internet não distorce a verdade, como afirma Keen, mas ajuda a descobrir a verdade que a mídia tradicional, algumas vezes, distorce.
É comum algo sair primeiro na internet, e, só depois, ser divulgado nos jornais e na TV. E é preciso, também, analisar a maneira como esses fatos são apresentados na mídia tradicional. Nesse ponto, há o famoso caso da “bolinha de papel” que atingiu o candidato José Serra durante a campanha para as eleições de 2010, tratado pela RedeG Globo como uma agressão e utilizado pela emissora como material de campanha pró-Serra.
Andrew Keen

Para Andrew Keen, a internet é utilizada exclusivamente como uma forma de auto-promoção e de divulgação de cultura e informações inúteis, em vez de fonte de notícias e de informação e cultura “real”.  E por que um aspecto anularia o outro? Por que o fato de procurar sites de fofocas de celebridade impede o indivíduo de buscar também sites noticiosos de grandes corporações, como Keen afirma? O ser humano tem vários interesses, que dependem do contexto, do que acontece no momento.
O autor parece ser defensor do lucro das grandes indústrias, mas não leva em conta que elas também podem lucrar com a internet. Segundo ele, os especialistas não podem ser os “macacos” que ele tanto critica. O conhecimento e o produto só são positivos se forem corporativos e puderem ser comprados com dinheiro. O conhecimento não precisa ter um dono. A criação compartilhada não significa, necessariamente, a destruição da fronteira entre público e autor e a “morte do livro”, por exemplo, citada por Andrew.
Mas a internet também pode levar cultura às massas, como Keen tanto queria e afirma que não é possível. Por que a internet tem que ser vista apenas como feita pelo próprio usuário? Quantas pessoas tiveram a oportunidade de conhecer, por exemplo, grandes artistas de outros países e outras épocas? Quantas pesquisas científicas foram feitas, ao mesmo tempo, por pesquisadores em vários pontos do mundo? Oportunidades que seriam muito mais difíceis sem uma rede interligada de computadores.
Andrew Keen critica também o fato de que a inteligência coletiva de sites como a Wikipedia criam uma verdade baseada no consenso entre seus usuários. Segundo ele, revisores e editores garantem a publicação da verdade, o que não existe na internet. Mas a simples existência de editores e revisores não impede o erro. Prova disso é a seção erramos, presente em todas as edições de todos os jornais do mundo. Além disso, esses profissionais da mídia tradicional obedecem as ordens de cargos acima deles, com critérios subjetivos já citados.
O autor critica, especialmente, Chris Anderson, criador da teoria da Cauda Longa. Segundo Keen, tudo o que é produzido por usuários na internet, sejam vídeos ou blogs, por exemplo – a cauda longa de Anderson – não tem a mesma qualidade dos produtos da indústria do entretenimento. Para Keen, a internet não cultiva talentos. Ele afirma que apenas a estrutura completa da mídia tradicional, com profissionais que vão desde olheiros a técnicos e publicitários, podem transformar talento e sucesso. Mas o autor não leva em conta, por exemplo, todos os novos músicos que surgiram na internet e foram aproveitados pela mídia tradicional, como Justin Bieber, Mallu Magalhães e Greyson Chance, que hoje fazem sucesso também fora da internet. No caso da mídia tradicional, o sucesso, muitas vezes, acaba não dependendo só do talento.

A internet tem, sim, muitos problemas. Vários deles citados no texto, como a excessiva exposição do eu, o anonimato e a cultura do “copiar e colar”. Mas ela não é só feita de problemas, tem soluções também, como a democratização das ferramentas, a diminuição do lucro das grandes corporações, a facilidade de denunciar crimes. Andrew Keen, como muitos outros autores, pró e contra a internet, não leva em consideração esses dois lados, dando ênfase apenas naqueles aspectos que ajudam a reafirmar o pensamento dele. A internet não é simples o bastante para ser definida apenas como positiva ou negativa.
Quem quiser ler a introdução e o primeiro capítulo da obra de Keen, trecho que serviu de base para essa resenha, é só clicar aqui. O autor também mantém um blog. Na época do lançamento de O culto do amador no Brasil, Keen deu uma entrevista para o Programa Milênio, da Globo News. A entrevista está disponivel no youtube.




quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Resenha de "O Jornalista no Mundo dos Games"

O artigo O Jornalista no Mundo dos Games, de Analu Andrigueti, foi publicado no livro Hipertexto, Hipermídia. As novas ferramentas da comunicação digital, organizado por Pollyana Ferrari.

Andrigueti, então mestranda em Comunicação na USP, relata sua experiência de aproximação à realidade virtual e de integração no ambiente das lan houses e dos games, usando de um tom menos formal, numa leitura mais agradável, além de proporcionar conclusões concretas, fundamentadas na realidade do desenvolvimento e popularização das mídias digitais de veiculação da informação.


Resenha do artigo O Jornalista no Mundo dos Games, de Analu Andrigueti
por Beatriz C. Ribeiro


ANDRIGUETI, Analu. O Jornalista no mundo dos games. apud. FERRARI, Pollyana (Org.). Hipertexto, Hipermídia. As novas ferramentas da comunicação digital. São Paulo: Contexto, 2007.


Para crianças e adolescentes o computador não é apenas uma ferramenta de lida cotidiana, de uso objetivo e breve. É também fonte de diversão e interação com o outro, por meio dos chamados games virtuais, além dos vídeos no Youtube, do “bate-papo” no MSN, dos blogs, etc. Para eles a internet é um “ambiente” de integração, que encurta distâncias geográficas e temporais.

Conhecer e aprofundar estudos acerca dos games pode servir para que jornalistas e webdesigners passem considerar positivamente a forma como os jovens aderem – ou melhor, “entram” – a esse mundo virtual, podendo render modelos de sites jornalísticos nele inspirados, pautados essencialmente na interatividade, o que, em conseqüência imediata, também leva a um maior grau de imersão do leitor no conteúdo ali presente.

A autora cita como exemplo de games da atualidade que viraram “mania” entre os jovens o “Counter Strike” e o “Second Life”. Apesar de integrarem-nos em contextos diferentes – no “Counter Strike” o jogador simula um cenário de batalha terroristas versus anti-terroristas e no “Second Life” o jovem pode “virar um personagem” e viver uma vida por ele controlada – esses jogos virtuais usam recursos visuais, sonoros e interacionais semelhantes, que envolvem os jogadores em suas respectivas “realidades virtuais”. Em razão disso, os níveis exacerbados de imersão ao conteúdo dos games são objeto de grande polêmica: o adolescente que se tranca no quarto e “conversa” o dia inteiro com amigos virtuais por meio dos chats não estariam  realmente interagindo com o mundo externo. Correm o risco de, na busca de uma vida melhor ou pelo menos diferente, passarem a viver “a segunda realidade” no lugar da primeira.

Quando se trata de games, tem-se um público formado principalmente por jovens do gênero masculino; mas, em se tratando do público construtor e leitor dos jornais online, a heterogeneidade é a característica. A evolução de linguagens e mídias envolvidas no processo comunicativo implicou a diversificação no perfil dos leitores da mensagem jornalística. Segundo a professora da PUC-SP Lúcia Santaella, há três tipos de leitor: o Contemplativo, leitor de livros, que usa da imaginação para a leitura seqüencial, que contempla e medita; o Movente, leitor da velocidade, de linguagens efêmeras e misturadas; e o Imersivo, o leitor integrado na era digital do século XXI, livre por poder realizar escolhas quanto a velocidade e a diversidade de conteúdo que consome a partir de um simples clique no mouse. Tais perfis não se excluem, podendo o leitor, ao ler um livro, ser Contemplativo e, ao navegar por sites da internet, exercer o lado Imersivo da leitura.

O princípio da interatividade – tão evidentemente presente no mundo dos jogos virtuais – nesse no novo formato jornalístico, o online, relaciona-se à ideia de feedback do usuário, quanto ao conteúdo que dele consome. A colaboração do leitor na construção da mensagem midiática e a quebra da linearidade tradicional na leitura de jornais e revistas são características relevantes no emprego do conceito de interatividade no webjornalismo.

Apesar de as experiências interativas serem, na maioria das vezes, relacionadas a uma total liberdade de participação do usuário/leitor no processo de construção da mensagem, ainda prevalece no formato de jornalismo online, principalmente nos sites de hard news, uma trivialidade nessa interação. Incluir enquetes que permitem ao leitor responder apenas “sim” ou “não” e relacionar matérias à hiperlinks diversos ainda são formas de, de certa forma, restringir a atuação do leitor a um formato, um layout, organizado e monitorado pela própria empresa comunicativa que deu forma ao site. Compreendem uma boa estratégia de aumentar a imersão do público no seu conteúdo, mas não necessariamente a interação plural e democrática dele com a mensagem veiculada em questão. A criação de fóruns e bate-papos nas páginas da web destinadas ao jornalismo se enquadra melhor na ideia de experiência verdadeiramente interativa, pois permite o debate, a exposição de argumentos diversos, a crítica, enfim, a atuação do elemento “internauta” na produção da Comunicação online.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Resenha de O Caminho das Nuvens

Cartaz do filme O Caminho das Nuvens
O nordeste do país é um tema muito explorado no cinema brasileiro. Vários filmes já retrataram a vida sofrida do nordestino, suas lutas e sua busca por uma vida melhor, muitas vezes por meio da migração para o sudeste do Brasil. A temática é, na maioria das vezes, retratada de forma pesada. A forma encontrada pelo diretor Vicente Amorim para relatá-la de modo mais leve foi transformar o filme em um road movie.  Inspirado na história real de um caminhoneiro desempregado que foi de bicicleta da Paraíba ao Rio de Janeiro com a mulher e os cinco filhos, O Caminho das Nuvens já começa na estrada. Na cena inicial, Rose lê para o marido, Romão, analfabeto, uma placa que diz “Praça do Meio do Mundo”. Mas a jornada deles não começou ali. Na cena seguinte, o filho mais novo do casal, ainda um bebê de colo – que, durante todo o filme, passeia pelo colo dos pais e dos irmãos – esquecido no meio da estrada, é quase atropelado por um caminhão. Na conversa com o caminhoneiro, o patriarca descobre que ele vem do Rio de Janeiro e talvez ali Romão tenha decidido o destino de sua viagem.
 
A religiosidade extremamente presente na vida do brasileiro, além da necessidade de conseguir um emprego que lhe pague mil reais, é o que norteia Romão em sua jornada. Antes de seguir para o Rio de Janeiro, o pai de família resolve ir a Juazeiro do Norte fazer uma visita à estátua de Padre Cícero. Romão carrega no nome sua fé cega pelo Padre, que é também aludida no nome do filho mais novo, Cícero. Romão acredita que seu “Padim” é a solução de todos os seus problemas, e isso é o que o dá forças para levantar a antiga mesa de Padre Cícero, que, segundo a crença popular, só pode ser erguida por aqueles livres de pecado. Sua religiosidade, porém, não é compartilhada na mesma intensidade pelo restante da família, principalmente por Antônio, o filho mais velho. Essa religiosidade exagerada é um dos motivos de divergência entre o pai e Antônio, que não consegue entender as razões do pai e o que os obriga a percorrer a jornada de bicicleta. Em uma passagem do filme, essa diferença entre eles fica muito clara. Após não conseguir ajuda de ninguém em Juazeiro, Romão diz a Rose que “quem dá aos pobres empresta a Deus”. Antônio então rebate com “E Deus, paga quando?”.
  
Romão e Rose, os protagonistas, na cena inicial do filme.


Na passagem da família por São Bento, o desconforto de Romão e seu tradicionalismo, no que diz respeito a quem deve sustentar a família, são deixados à mostra. Amparados por um vereador da cidade e por sua mulher, enquanto Rose começa a trabalhar tecendo redes, Romão consegue apenas promessas de emprego como caminhoneiro. Ele, então, resolve partir novamente em busca do tão sonhado trabalho que pague mil reais. Ao ouvir a sugestão de Jurema, a esposa do vereador, de que a família seja sustentada pelo dinheiro ganho por Rose até que apareça um serviço para Romão, ele responde: “A senhora me desculpe, mas isso não pode ser assim não”, deixando claro seu tradicionalismo patriarcal e seu desconforto com a incapacidade de conseguir o emprego que o permita sustentar os filhos e a esposa.
  

A trilha sonora de O Caminho das Nuvens é baseada nas músicas de Roberto Carlos, a quem o filme é dedicado. As músicas do cantor acompanham a família durante toda a jornada. A cantoria é sempre iniciada por Clévis, um dos filhos, e acompanhada pelos outros familiares. O garoto também acompanha, tocando violão, enquanto a mãe canta e arrecada dinheiro. As canções do Rei servem ainda como plano de fundo para que percebamos o amor de Rose e Romão. Em uma das cenas, ela canta para clientes de um restaurante, mas parece direcionar alguns dos versos da música para ele.
  
Ao longo do filme, acompanhamos ainda o amadurecimento de Antônio e os dilemas vividos por ele, suas várias tentativas frustradas de fumar um cigarro, suas contestações às escolhas do pai, que sempre repete que o filho não é um homem – embora o menino aproveite cada oportunidade para dizer que é, sim, um homem – e que, na idade dele, já ganhava dinheiro e tinha uma mulher.  Vemos sua tentativa de acabar com o sofrimento da família, comprando passagens para o Rio com dinheiro roubado – passagens que o pai rasga –, sua relação com Rodney, o irmão sonâmbulo. Presenciamos sua primeira desilusão amorosa, com uma moça vestida de Sereia, em Porto Seguro, no “parque temático” Caminho das Nuvens, onde o pai e os irmãos mais novos conseguiram um emprego como falsos índios e onde Antônio flagrou o pai numa postura ridícula. O garoto resolve ficar na cidade e não seguir viagem com os pais. Embora Rose diga que Antônio “não é dono da própria vida”, Romão percebe, nesse momento, que um pai não é o dono da vida do filho e que é preciso dar a ele liberdade para que decida seu destino. Após a decepção amorosa com a Sereia, porém, o menino segue o mesmo caminho dos pais e acaba reencontrando a família no Espírito Santo, onde permanece trabalhando numa construção civil, emprego arranjado pelo pai. Ao se despedir do filho, Romão, finalmente, lhe entrega um cigarro, como se reconhecesse que o filho tornou-se um homem, e diz que o próximo ele comprará com o próprio salário.
 
Ao chegar ao Rio, a família continua usando as músicas do Rei como fonte de sustento, complementando a renda vendendo bugigangas no Cristo Redentor. Percebe-se, porém, que Romão é um “homem da estrada”, como ele já tinha dito a Severino e Jurema, em São Bento, e que quer logo começar uma nova jornada, dessa vez para Brasília. Seu ímpeto é logo cortado pela mulher. A música de Roberto Carlos também é o elo entre a família no Rio e o filho que ficou no Espírito Santo. Rodney e Antônio, mesmo distantes, assistem ao mesmo show do cantor que embalou sua jornada. Nesse ponto do filme, também é ainda mais perceptível a importância que a viagem teve na vida de Antônio, que se recusa a vender sua bicicleta, lembrança que tem da família, para um colega de trabalho.
  
Rodney e Antônio, dois dos cinco filhos do casal.
Vários dos fatores apresentados acima, como a religiosidade e a crise da autoridade paterna, segundo artigo apresentado por Antônio da Silva Câmara, Doutor em Sociologia, permitem que a modernidade supere a tradição e que a fé que guia Romão enfraqueça durante a viagem. De acordo com Câmara, as temáticas que tipicamente retratam o Nordeste do país não ganham vez em O Caminho das Nuvens. A fome e a pobreza relacionadas ao trabalho do homem no campo não são relatadas no filme, e a maioria das agruras sofridas pelos personagens durante sua jornada poderia ter sido evitada, se não houvesse tanta insistência em viajar até o Rio de Janeiro. O filme representaria, portanto, a fuga de todas as regiões, já que o sofrimento pelo qual a família passa não é causado por fatores que seriam tipicamente nordestinos, e sim por dificuldades ao longo da própria viagem.
 
Por ser, basicamente, um road movie, há várias passagens da família de bicicleta na estrada. O filme é iniciado com uma tomada acima das nuvens e finalizado com uma vista panorâmica do Rio de Janeiro, que também termina acima das nuvens.  Em alguns momentos, quando a mãe e os filhos cantam Roberto Carlos, percebemos o pai, em plano de fundo, olhando para a esposa. Vicente Amorim promove muitos focos que nos permitem ler a expressão dos atores.

 A obra, com roteiro original de David França Mendes, é fruto de uma viagem de pesquisa que também gerou 2000 Nordestes, um documentário do mesmo diretor. Foi filmado em oito semanas em Juazeiro do Norte e nas cidades de Porto Seguro e do Rio de Janeiro. O Caminho das Nuvens foi o primeiro filme brasileiro produzido pela Miravista, empresa criada pela Buena Vista International para co-produzir filmes na América Latina. Foi ainda o oitavo filme produzido pela Filmes do Equador após a retomada do cinema brasileiro.



Fontes consultadas
http://oolhodahistoria.org/artigos/IMAGEM-o%20caminho%20das%20nuvens%20antonio%20camara-alunos.pdf
http://www.autoresdecinema.com.br/arquivos/ocaminhodasnuvens.pdf
http://www.filmeb.com.br/quemequem/html/QEQ_profissional.php?get_cd_profissional=PE484
http://www.meucinemabrasileiro.com/filmes/caminho-das-nuvens/caminho-das-nuvens.asp

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Programa Radiojornalístico "Repórter Sintonia"

O programa simula a cobertura jornalística do 3º Festival de Música Popular Brasileira, ocorrido em 21 de outubro de 1967 e exibido pela TV Record. A ideia foi enquadrar os fatos e curiosidades do polêmico e aclamado evento num formato essencialmente radiojornalístico retrospectivo, usando de técnicas de áudio, vinhetas e músicas da época, para "fazer pensar" que o programa foi ao ar um dia após o festival.

Confira o resultado no Soundcloud:

Temática, roteiro, edição e locução foram realizados pelo famigerado grupo de alunas de Jornalismo da UFC, Alissa Carvalho, Beatriz Ribeiro, Camila Mont'Alverne, Gabriela Custódio, Kel Lima e Thamires Oliveira, para a disciplina Radiojornalismo I, em 2011.2.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Entrevista com o Mino - Parte III

Nessa parte, Mino fala sobre o advento das mídias digitais para a publicação de produções artísticas, o fenômeno “mangá” e a transposição do público dos quadrinhos – antes jovem, hoje cada vez mais adulto –, e comenta sobre a charge política e a “gaiatice” dos políticos brasileiros. 
As fotos são da Gabriela Custódio. Pra ver mais fotos da entrevista com o Mino - e muitas outras bem legais -, dá uma checada lá no blog dela ;) http://meumundoenquadrado.blogspot.com/


Mino, por Gabriela Custódio
Panz! - A gente sabe que o espaço impresso parase publicar cartum ou charge é muito pequeno, e na internet ocorre um fenômeno recente que é a criação de sites destinados especialmente para publicar cartuns, tirinhas, etc. Como o senhor avalia isso?

Mino – Eu acho que isso é uma coisa muito boa, tanto quanto foi o cinema para o teatro. Quando começou essa história, o teatro viu-se ameaçado. Vinha desde o tempo dos gregos: teatro, teatro, teatro... Ai vem o cinema: pronto acabou o teatro! Mas tá ai o teatro. Ai veio a televisão: pronto acabou o cinema. Tá aí o cinema! Ai tá aí a internet, o que vai ser da imprensa... Não acaba! Tem um somatório de coisas fantástico. Eu tou me preparando para daqui a uns tempos “ internetzar” esse material [a Rivista]: fazer algumas animações, criar um site, aquela coisa toda. Só não sei como passar isso agora, e eu não tou preocupado agora, porque eu não tenho capacidade de ir lá e fazer isso, mas assim que aparecer um internauta bom... Meu filho já tentou fazer com a parte das pinturas, e eu já tou selecionando as fotos para jogar lá. Antigamente a gente fazia um catálogo “dessa grossura”, que para vender tinha que ser por cem reais, e para fazer você imagina o preço. Mande pelos correios um bicho desse tamanho e você já fica pobre. Isso mudou. Eu posso ter um catálogo para mandar para alguém de vez em quando, mas esse catálogo pode ir na internet. Ganha o mundo.
Só que o pessoal tá pensando que a internet é uma coisa meio miraculosa. Ela tem suas limitações. Eu, apesar de não saber manejar, sei de uma coisa: se eu botar 700 quadros na internet, muita gente que tá pesquisando pintura brasileira vai chegar lá. Mas também se eu mandar um bilhetinho “desse tamanhinho” pelo correio, o velho correio, se eu mandar 3 mil bilhetinhos desses dizendo para alguém, lá na China, por favor acesse meu site, esse alguém lá na China entra no site. Mas eu vejo tudo que chega de novidade como uma coisa agregadora. Rapaz, quem é que vai substituir aquele livrinho que você bota pra cá, bota pra lá, que você dorme com ele? (risos). E as pessoas que adoram o livro mesmo, que cheiram o livro, que têm coleção... Tem gente que guarda o livro só pela beleza. Tem outros que lêem mesmo. É a paixão pelo livro, e eu acho que essas coisas não são substituíveis. Tem várias peças de teatro que foram filmadas e que viram filmes, e filmes que viram peça de teatro. E história em quadrinhos que vira filme. A coisa que eu achei mais fantástica foi o Batman e os quadrinhos ganhando a magia do cinema! Nunca pensei que o cinema fosse capaz de fazer isso! E o que eu acho bacana é que isso é que é cinema de arte para mim, porque aquela tecnologia é arte pura.


Panz!- De uns tempos para cá, a gente observa uma tendência de quadrinhos direcionados para adultos, o que é observado principalmente nos mangás. Como você enxerga essa transposição do público dos quadrinhos?

M- Eu ainda não arregalei os olhos para essa história de mangá, porque eu ainda não li nenhum. Eu sei que deve ser uma coisa espetacular, para reunir quarenta mil pessoas num negócio desses [SANA]. Deve ser um negócio incrível, mas eu ainda não alcancei. Não tive tempo ainda de chegar e pegar uma revista de mangá. Aliás não é só mangá, não. As revistas atuais mesmo de Batman e de outras coisas, eu tou muito tempo longe disso. Eu tenho até medo de desencantar um pouco. Eu não sei por que eu não tenho mais tempo de ler uma história em quadrinhos como eu tinha antes. Eu gostava! A maior alegria do mundo era uma coca-cola, um sanduíche e um abajur aqui e eu na cama lendo uma história daquelas: do Mickey, do Pateta, do Pato Donald e outros personagens que tinham que eram engraçadíssimos. Mas eu não entendo não [os mangás]. Tem aqueles raios, aquelas coisas todas... Não sei se isso é tão benéfico, não sei se pelo fato de eu conhecer, quanto o trabalho da Disney, porque quando você vê um desenho animado da Disney, aqueles desenhos cheios de ternura, o que é melhor para cabeça dessa geração, ou de qualquer geração, esse mundo encantado ou esse mundo mais pesado? Eu não sei. O futuro é que vai dizer. Mas o fato é que os meninos tão botando para dentro da cabeça muita coisa pesada. Um dia desses, tava passando um filme que, quando eu vi uma cena, eu não acreditei. Um cara amordaçando uma mulher, o outro filmando, ai ele pega uma faca “deste tamanho”, e eu disse: isso é bem algum truque que esse cara vai fazer, ai páaaaaaaaaa! E o sangue espirrando, ai páaa... na frente da televisão! Olhe, eu vou dizer uma coisa a você: nós nunca assistimos a um filme que tivesse isso a uns trinta, quarenta, cinquenta anos atrás! O que é que isso vai gerar na cabeça de uma pessoa?! Eu desliguei logo, porque eu sei que ali pode virar pesadelo, porque eu não tomo mais banho de mar tranquilo por causa de “Tubarão” (risos). Um dia desses, eu ouvi um cara dizendo mesmo: o Spilberg deu para todo mundo o medo do mar. Antigamente eu ficava boiando na água do mar. Uma vez eu fui pra fazenda do meu sogro, quando foi de noite, minha mulher me pediu para ir comprar coca-cola num lugar que era lá do outro lado do açude, num escuro danado! Eu fui. Quando foi na volta, que eu vim no escuro, tudo quanto era monstro de cinema apareceu (risos)! Eu comecei a ficar com medo e pensei: rapaz, isso não existe não! Isso é coisa de cinema! Aqui deve ter é uns “bichim” por aqui, uns passarinhos, umas cobras (mais risos)! É o medo alojado na cabeça da gente. É de tanto ver filme. Desde “Psicose”, com aquela cena lá: pam, pam, pam... Se eu vir uma banheira, e um chuveiro aberto, pronto (risos)! Eu não sei se isso é bom, porque dizem os psicólogos que isso faz parte da psiqué da gente, esse negócio de ter medo, e conviver com esse negócio, né?Eu não sou capaz de fazer isso. Eu não sou capaz de imaginar fazer um livro, uma história, com esses ingredientes de jeito nenhum. Eu faço brincando. Tem até um episódio do Capitão Rapadura do tipo suspeito, que a mulher dele liga e diz: venha cá, tem um tipo suspeito aqui na esquina. Ele vai com aquela velocidade dele todinha e quando chega lá diz assim: “alto lá, tipo suspeito! Quem é você?”. Ele diz: “sou um tipo suspeito”. O capitão diz: mostre sua carteira. Ele mostra a carteira e tem lá: tipo suspeito (risos). No final da história, a mulher dele pergunta: “Afinal, Capitão Rapadura, quem era aquele homem?”. Ele diz: “era só um pobre tipo suspeito” (mais risos). Mas voltando ao mangá: ainda não li. Ainda não tive a oportunidade de ler. Por isso que eu não posso fazer nem a crítica, nem o elogio, nem nada. O elogio eu faço pelo resultado, que não deve ser à toa. Mas também não vou elogiar a tatuagem porque tem mil pessoas tatuadas. Tem tantas coisas no mundo que eu não entendo. O mangá é mais fácil de explicar porque é desenho, é bonito e deve ter algum substrato. Mas por exemplo, a tatuagem eu não entendo. Eu não entendo como é que uma moça de uma pele dourada, bonita, faz uma marmota daquelas (risos)! E não sai, né? Às vezes eu não entendo essa geração de hoje. O meu filho com piercing na orelha, o José, e eu disse “toda vez que você furar a orelha eu furo também viu, Zé?”. Ele disse: “você não pode, você é meu pai!” (risos). Eu não entendo, deve ter alguma razão.

Gabriela, Murilo, Alissa, Carlitos e Pedro, a galera da Panz!, no ateliê do Mino

Panz! - O senhor disse uma vez, em uma entrevista, que tinha parado de fazer charge porque "o político por si só já é engraçado". E, hoje, o Tiririca foi eleito o deputado mais votado do país. Qual é a opinião do senhor sobre esse assunto?


Mino - Eles são gaiatos, mas eles não têm graça. Eles dizem e fazem tanta besteira que, se você juntar tudo, dá uma obra fantástica de comédia. O que tá incomodando eles [os políticos] nessa história do Tiririca é que ele é o retrato, a caricatura, a charge da política atual. A cara do nosso Congresso. E ele é a cara inocente, porque é um palhaço. Ele não vai roubar ninguém. Ele não tem capacidade de roubar milhões. E quanto mais grosso um político fala, mais ladrão ele é. Não são os analfabetos que estão roubando milhões, são os altamente alfabetizados. É raríssimo você encontrar um homem de bem. Eles estão saindo. Enquanto Collor volta, Guimarães volta. Nós, cartunistas, que somos simples artistas, estamos cada vez mais políticos em nosso ponto de vista. Mas eles, políticos, se observados, é que estão ficando cada vez mais engraçados.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Cobertura Fotográfica "Perspectiva Musical"

Tião Simpatia e banda, no lançamento do seu DVD | Por Beatriz Ribeiro

Essa sequência fotográfica foi apresentada na disciplina de Fotojornalismo I, ministrada pelo professor Elian Machado. O trabalho foi realizado por mim, Alissa, Gabriela Custódio, Kel Lima e Thamires Olveira, quando entramos num consenso quanto ao tema da cobertura. Música inspira gestos, trejeitos, caretas, movimentos únicos. Retratá-los em concertos soou como capturar o sentimento dos músicos, que a produzem ali, naquele instante, ao vivo.

Fagner, em show no anfiteatro do Centro Cultural Dragão do Mar | Por Alissa Carvalho

Buscamos muitas perspectivas nos vários estilos musicais contemplados. A performance da banda, os instrumentos utilizados, a animação do público: todos esses aspectos foram capturados pela equipe na tentativa de abordar o máximo desse contexto tão abrangente.

Confira aqui parte do resultado dessa abordagem fotográfica:

Vocalista da banda Leite de Rosas e os Alfazemas, em show nos porões do Teatro José de Alencar | Por Beatriz Ribeiro 

Luzes nos pratos da bateria da banda de rock da cidade, a Lótus Negra, em show no bloco do curso de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará | Por Alissa Carvalho

Tião Simpatia no violão, no lançamento do seu DVD | Por Beatriz Ribeiro

 Fagner, em show no anfiteatro do Centro Cultural Dragão do Mar | Por Alissa Carvalho

Plateia atenta ao show do Fagner, no anfiteatro do Dragão do Mar | Por Alissa Carvalho

Bateria da banda Leite de Rosas e os Alfazemas | Por Beatriz Ribeiro

Essas fotos são as da Alissa e minhas, mas as outras meninas da equipe fizeram fotos muito lindas também. Para ver o resultado da cobertura na íntegra, acesse o blog da nossa turma de Fotojornalismo I, o Olhares UFC, e o flickr.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Entrevista com o Mino - Parte II

Nessa segunda parte, Mino fala sobre o trabalho com a internet, os problemas de se criar uma revista e seu personagem mais conhecido, o Capitão Rapadura. Fotos, mais uma vez, da Gabriela Custódio.

Mino



Panz! - Mino, o senhor nos fala que não tem muita paciência para assistir televisão. E com a internet? O senhor tem acompanhado?

Mino - Eu sou um primata na internet (risos). Não sei nem lidar com o computador ainda. Eu sei o que ele faz, e trabalho junto a alguém que sabe mexer. Conheço só as técnicas que existem nele, e sei que todas as técnicas que existem no mundo estão lá dentro. Mas eu sei que esse “bicho” é perigoso! Teve uma vez que eu fui na Verdes Mares, e tinha um cara que era um “crânio”, mas o cara já me recebeu de cara feia porque eu tava atrapalhando o programa dele. Deu uma hora de aula, eu do lado dele e ele falando sozinho. Decidi procurar outra pessoa. Não encontrei um professor que me passasse o que era o computador! Meus amigos me enchiam o saco: “você precisa ter um computador!”. Um eu disse: “agora eu preciso ter um. Isso não quer dizer que eu vá aprender a mexer, mas eu preciso ter”. Fui em uma agência de publicidade e lá tinha a Edileusa, que me mostrou como é esse negócio de desenho no computador. Eu fiz um desenho fora e ela colocou no escâner. Ai eu fui dizendo: “faça um céu aqui uma bolinha ali...” O desenho ficando bonito e eu, entusiasmado. Chamei a moça para trabalhar comigo e a partir dai eu comecei a transpor os meus desenhos para o computador: eu ao lado dela. Fui dizendo como colorir o desenho de tal forma que hoje, o Simões, que é o cara que trabalha comigo, já sabe praticamente o que eu quero. Se eu tivesse fazendo essa parte, eu não estaria com essa quantidade de trabalhos toda. Eu quero é mas gente trabalhando, e se eu tivesse mais dinheiro colocava mesmo.

Panz! - E qual a dica que o senhor dá para quem quer fazer uma revista?

Mino – Simplicidade no começo. Milôr Fernandes uma vez reclamou do Ziraldo porque quando ele tava fazendo essa revista [a “Bundas”, lançada por Ziraldo em 1999] ela tinha marca d'água, tinha uma coisa em cima da outra, uns desenhos saindo daqui, outros saindo dali. Ele dizia: “rapaz, os chineses, não foi à toa que eles inventaram essa leitura que vem da esquerda para a direita e descendo e toda a nossa leitura é feita nesse sentido. Não adianta complicar que você não vai inventar outra coisa além disso. Então deixe uma coisa boa para o leitor ler, e faça uma boa ilustração pro leitor ver, e se você tem uma coisa que quer que o leitor não veja, esconda!”. Hoje as revistas, depois da era do computador, tem super efeitos especias, mas o roteiro se perde. Então, eu acho que é a simplicidade. Depois, começar com pequenas páginas. O que eu acho interessante é o seguinte: só começo pelo número zero. A primeira edição que eu fiz tinha número zero: “Almanaque Mino número zero.” Isso é para não perder essa noção de que você tem que começar pequeno. Se você começar com oito páginas, tá ótimo. Depois que dominar as oito, vai para as dezesseis. É aquela coisa da simplicidade mesmo. Daqui a pouco você começa a criar e inventar umas coisas, e o próprio material que você tá criando já começa a pedir de você. E ai depois que você começa a fazer, você vê o seu próprio trabalho impresso e ele lhe impressiona. Ai você se vê no seu trabalho e acontece uma coisa diferente com você que te torna melhor.

O negócio é não parar, poque você sempre volta melhor. E você já entra no conjunto que existe no mundo, que a gente não fala muito nas escolas porque é confundido com espiritualidade e filosofia. Mas o fato é que nós estamos em um universo que está regendo as coisas de uma maneira correta. As coisas erradas tão por conta da gente. Nós somos os únicos seres capazes de errar, né? Esse é o grande privilégio que a gente tem. A natureza não erra. Os animais não erram. São todos instintivos e bem programados, mas o homem erra poque é livre, ele é coparticipante desa programação. Então ele é utilizado de uma maneira mais evoluída, que é a nossa participação, e a inspiração vai vir de lá, tá dentro de você e vem de fora também. Os gregos achavam que vinha só de fora, que eram as musas. A inspiração também vem dos outros. Uma frase que você fala aqui alguém completa e vira uma frase de efeito. Nada é nosso e tudo é nosso, e deve-se ter um respeito poque na hora em que você for pegar uma coisa que já vem muito burilada na sua mão você tem que citar as fontes. E aí a Filosofia entra na Ética. Eu deixei de fazer charge poque eu não queria agredir mais ninguém. Porque o Fernando Henrique Cardoso pode ser o pior homem do mundo, Dilma, Serra... mas eu acho que nessa hora você tá falado de uma pessoa, de um pai de família. Tem que respeitar. Você não pode chegar e debochar, mostrar um retrato dele como se o caráter dele fosse aquilo. Eu aprendi isso com uma surra que eu levei do meu Pai. Eu tinha entre 5 e 7 anos de idade. Tinha uma senhora que morava na nossa rua que, a bichinha, tinha bigode. Ela ia passando no meio da rua e o apelido dela era “bigodeira”, e eu gritava: “bigodeira, bigodeira...”. Papai chegou no jantar e disse assim: aqui nessa casa eu bato em qualquer pessoa que chamar aquela senhora de bigodeira! Tem que ter respeito pela senhora!”. Na mesma hora eu sai lá na porta, que era na Dom Manuel, abri a porta e não tinha ninguém na rua. Ai eu disse: “bigodeira...” Meu pai me deu uma surra, e foi uma coisa que eu nunca esqueci.

Explorar um defeito físico, ou ridicularizar o ser humano, algumas vezes eu cheguei a fazer isso, mas quando fazia era um remorso danado, ai nunca mais fiz. Acabei abandonando a charge, porque a charge é sempre criticando o pessoal. O chargista não pode ser a favor, já pensou num negócio desse? O Neno [Cavalcante, editor do Diário do Nordeste] foi quem me disse isso. Fui fazer uma charge uma vez elogiando o Tasso, que tinha sido eleito, ai ele disse: “ei, Mino, chargista não pode ser a favor!”. Eu fiquei com raiva do Neno, mas ele tinha razão. Depois eu passei a fazer o cartum, que é uma coisa mais da gente, uma crítica nossa mesmo. Nós é que somos engraçados.

Mino desenhando o que seria a capa da edição zero da Revista Panz!


Panz! - Mino, nós sabemos que o Capitão Rapadura foi considerado pela mídia como o maior representante do que seria um herói genuinamente brasileiro. Por que surgiu na sua cabeça a ideia de fazer um herói brasileiro?

Mino – Na realidade, ele seria a caricatura de um super-herói. Não é nem ser um herói brasileiro, é ser a caricatura de um super-herói. Então um super-herói nordestino, imagine como seria.. Teria que andar de jumento, comer rapadura e em vez do pó de pirlimpimpim seria a farinha d'água, ou coisa do tipo. Era mais uma brincadeira. Tanto que as primeiras histórias dele eram brincadeira. Agora quando ele começou a fazer as histórias dele, que ele passou a voar, parece que ele entrou num contexto do Capitão Marvel, do Super-Homem, então ele virou um meio super-herói cearense. Mas é uma brincadeira na realidade, é mais uma gozação. Como é que pode a gente ter super-heroi aqui, né? Mas a colocação que os jornalistas fizeram e que os pedagogos fizeram é o seguinte: que o Brasil, além de não ter super-heróis como Zorro ou o Super- Homem, gosta é do anti-herói. Gosta do Macunaíma, do Zé Carioca. O brasileiro gosta mais disso.

Disseram que para ter o perfil de um super-herói, ecologicamente correto, sem violência, o Capitão Rapadura se apresentava como sendo o melhor. E realmente é poque as historinhas dele não têm pancadaria. Ele não dá soco. Ele pode até levar, mas ele não dá (risos). E o engraçado é o seguinte: todas as histórias do Capitão Rapadura eu tenho ainda aqui guardadas, inéditas. São pouquíssimas histórias do Capitão Rapadura que saíram. E ele é uma lenda! Cheguei em um colégio uma vez, lotado, cheio de gente, e disse: “vou fazer um teste aqui. Quem conhece o Capitão Rapadura aqui levanta a mão. Todo mundo levantou! A segunda pergunta foi assim: “quem já leu uma história do capitão rapadura?” Ninguém. Mas eu tenho as histórias dele, para esse ano [2010]. Tou teimando para esse ano aqui com a ajuda da Socorro, que tá trabalhando comigo, para lançar pelo menos uma das histórias dele para o público conhecer melhor o que ele representa. Porque realmente ele mostra que a Gotham City, a metrópole dele, é Fortaleza, e todas as aventuras são assim: em Quixeramobim, em Tianguá, na bica do Ipu... 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Entenda o calendário de matrícula da Casa de Cultura Britânica

Está todo mundo de férias, relaxado e completamente desligado das obrigações acadêmicas. Mas fique esperto, que o período de matrícula dos alunos veteranos do curso de língua inglesa da Universidade Federal do Ceará, a Casa de Cultura Britânica (CCB), já começa semana que vem.

O calendário acadêmico oficial está disponível no site da CCB - que, aliás, foi atualizado, organizado e está de cara nova desde o começo de dezembro. A matrícula dos veteranos será realizada segunda (09) e terça-feira (10), organizados de acordo com o semestre que o aluno concluiu e com o semestre que ele vai cursar.

Mas, se está tudo tão organizadinho, tão claro lá no site, por que cargas d'água eu tô lendo esse post? É só ver o calendário que tem lá e "entender" a data da minha matrícula, num é não? Aí é que tá! Cada aluno vai ter apenas um dia pra efetuar o pagamento semestral - no valor de 80 reais - e preencher a ficha de inscrição. Ou é no dia 09 - no caso de "aprovados nos semestres II, III e IV" - ou é no dia 10 - no caso de "aprovados nos semestres V, VI, VII e UPPER. Mas aí surge a dúvida: quando ele diz "aprovado no semestre" tal, fala do semestre que eu concluí ou do que estou apto a cursar?

Eu mesma não tinha entendido isso e, como vou fazer o V e qualquer tipo de dúvida quanto a data podia me fazer errar a certa e perder a matrícula, fui atrás de esclarecer isso aí. Liguei para lá e foi dito o seguinte:
No primeiro dia (09), será matriculado o aluno que vai cursar o semestre II - portanto concluiu o I -, vai cursar o semestre III - portanto concluiu o II - e vai cursar o semestre IV - portanto concluiu o III. No segundo dia (10), será matriculado o aluno que vai cursar o semestre V - portanto concluiu o IV -, vai cursar o semestre VI - portanto concluiu o V -, vai cursar o semestre VII - portanto concluiu o VI - e vai cursar o UPPER - portanto concluiu tudo isso aí e é uma pessoal craque no inglês ^^.

Então é isso, acho que agora não dá mais pra errar o dia =)
Boa volta às aulas!


Serviço:
Calendário Acadêmico da CCB: http://www.culturabritanica.ufc.br/pages/calendario.html