terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Resenha de "O culto do amador"

O culto do amador
O culto do amador, de Andrew Keen, foi lançado em 2007 nos Estados Unidos e publicado em 2009 aqui no Brasil. No livro, Keen defende a polêmica teoria de que a internet destroi a cultura, em vez de democratizá-la, e promove a "ditadura da ignorância". Ele critica de forma negativa algumas características da rede, como a facilidade no compartilhamento - de arquivos ou de ideias - e a cultura do "faça você mesmo".

Em O culto do amador, Andrew Keen tenta provar, de forma bastante extremista, o impacto negativo que a internet vem tendo na economia e nos valores da nossa sociedade. Segundo Keen, em uma comparação com o “teorema do macaco infinito” do biólogo evolucionista T.H. Huxley, o fácil acesso à internet e a cultura de inteligência coletiva que ela traz estão promovendo a criação de “uma interminável floresta de mediocridade”.
Para o autor, a internet e todas as suas ferramentas estão contribuindo para destruição da nossa cultura, economia e valores. Andrew Keen, porém, padece dos mesmos erros cometidos por alguns dos autores pró-internet que critica no texto – o extremismo exagerado, a falta de um meio-termo em relação ao uso da ferramenta.
Ele cita os sites das grandes empresas de comunicação, como a CNN e a BBC, como fonte irrefutável de credibilidade, mas parece esquecer o que há por trás dessas grandes corporações, cheias de critérios subjetivos – fatores políticos, econômicos, a busca pela audiência – que direcionam o que é ou não publicado. O jornalismo, ao contrário do que Keen dá a entender, não é uma atividade praticada de forma isenta. Para ele, o julgamento especializado de editores evita que informações falsas e desrespeitosas, por exemplo, e que teoricamente são divulgadas de forma arbitrária na internet, sejam publicadas.
Keen ainda afirma que alguns assuntos importantes – e ele cita como exemplo uma guerra no Líbano – têm sua publicação garantida na mídia tradicional, ao contrário do que se divulga na internet, que, segundo ele, são apenas informações fúteis e inúteis. Sabe-se, porém, que os meios tradicionais, por suas motivações por vezes obscuras, deixam de noticiar fatos importantes que só se tornam conhecidos no mundo através da internet, como os recentes protestos acontecidos na Espanha. A internet não distorce a verdade, como afirma Keen, mas ajuda a descobrir a verdade que a mídia tradicional, algumas vezes, distorce.
É comum algo sair primeiro na internet, e, só depois, ser divulgado nos jornais e na TV. E é preciso, também, analisar a maneira como esses fatos são apresentados na mídia tradicional. Nesse ponto, há o famoso caso da “bolinha de papel” que atingiu o candidato José Serra durante a campanha para as eleições de 2010, tratado pela RedeG Globo como uma agressão e utilizado pela emissora como material de campanha pró-Serra.
Andrew Keen

Para Andrew Keen, a internet é utilizada exclusivamente como uma forma de auto-promoção e de divulgação de cultura e informações inúteis, em vez de fonte de notícias e de informação e cultura “real”.  E por que um aspecto anularia o outro? Por que o fato de procurar sites de fofocas de celebridade impede o indivíduo de buscar também sites noticiosos de grandes corporações, como Keen afirma? O ser humano tem vários interesses, que dependem do contexto, do que acontece no momento.
O autor parece ser defensor do lucro das grandes indústrias, mas não leva em conta que elas também podem lucrar com a internet. Segundo ele, os especialistas não podem ser os “macacos” que ele tanto critica. O conhecimento e o produto só são positivos se forem corporativos e puderem ser comprados com dinheiro. O conhecimento não precisa ter um dono. A criação compartilhada não significa, necessariamente, a destruição da fronteira entre público e autor e a “morte do livro”, por exemplo, citada por Andrew.
Mas a internet também pode levar cultura às massas, como Keen tanto queria e afirma que não é possível. Por que a internet tem que ser vista apenas como feita pelo próprio usuário? Quantas pessoas tiveram a oportunidade de conhecer, por exemplo, grandes artistas de outros países e outras épocas? Quantas pesquisas científicas foram feitas, ao mesmo tempo, por pesquisadores em vários pontos do mundo? Oportunidades que seriam muito mais difíceis sem uma rede interligada de computadores.
Andrew Keen critica também o fato de que a inteligência coletiva de sites como a Wikipedia criam uma verdade baseada no consenso entre seus usuários. Segundo ele, revisores e editores garantem a publicação da verdade, o que não existe na internet. Mas a simples existência de editores e revisores não impede o erro. Prova disso é a seção erramos, presente em todas as edições de todos os jornais do mundo. Além disso, esses profissionais da mídia tradicional obedecem as ordens de cargos acima deles, com critérios subjetivos já citados.
O autor critica, especialmente, Chris Anderson, criador da teoria da Cauda Longa. Segundo Keen, tudo o que é produzido por usuários na internet, sejam vídeos ou blogs, por exemplo – a cauda longa de Anderson – não tem a mesma qualidade dos produtos da indústria do entretenimento. Para Keen, a internet não cultiva talentos. Ele afirma que apenas a estrutura completa da mídia tradicional, com profissionais que vão desde olheiros a técnicos e publicitários, podem transformar talento e sucesso. Mas o autor não leva em conta, por exemplo, todos os novos músicos que surgiram na internet e foram aproveitados pela mídia tradicional, como Justin Bieber, Mallu Magalhães e Greyson Chance, que hoje fazem sucesso também fora da internet. No caso da mídia tradicional, o sucesso, muitas vezes, acaba não dependendo só do talento.

A internet tem, sim, muitos problemas. Vários deles citados no texto, como a excessiva exposição do eu, o anonimato e a cultura do “copiar e colar”. Mas ela não é só feita de problemas, tem soluções também, como a democratização das ferramentas, a diminuição do lucro das grandes corporações, a facilidade de denunciar crimes. Andrew Keen, como muitos outros autores, pró e contra a internet, não leva em consideração esses dois lados, dando ênfase apenas naqueles aspectos que ajudam a reafirmar o pensamento dele. A internet não é simples o bastante para ser definida apenas como positiva ou negativa.
Quem quiser ler a introdução e o primeiro capítulo da obra de Keen, trecho que serviu de base para essa resenha, é só clicar aqui. O autor também mantém um blog. Na época do lançamento de O culto do amador no Brasil, Keen deu uma entrevista para o Programa Milênio, da Globo News. A entrevista está disponivel no youtube.




quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Resenha de "O Jornalista no Mundo dos Games"

O artigo O Jornalista no Mundo dos Games, de Analu Andrigueti, foi publicado no livro Hipertexto, Hipermídia. As novas ferramentas da comunicação digital, organizado por Pollyana Ferrari.

Andrigueti, então mestranda em Comunicação na USP, relata sua experiência de aproximação à realidade virtual e de integração no ambiente das lan houses e dos games, usando de um tom menos formal, numa leitura mais agradável, além de proporcionar conclusões concretas, fundamentadas na realidade do desenvolvimento e popularização das mídias digitais de veiculação da informação.


Resenha do artigo O Jornalista no Mundo dos Games, de Analu Andrigueti
por Beatriz C. Ribeiro


ANDRIGUETI, Analu. O Jornalista no mundo dos games. apud. FERRARI, Pollyana (Org.). Hipertexto, Hipermídia. As novas ferramentas da comunicação digital. São Paulo: Contexto, 2007.


Para crianças e adolescentes o computador não é apenas uma ferramenta de lida cotidiana, de uso objetivo e breve. É também fonte de diversão e interação com o outro, por meio dos chamados games virtuais, além dos vídeos no Youtube, do “bate-papo” no MSN, dos blogs, etc. Para eles a internet é um “ambiente” de integração, que encurta distâncias geográficas e temporais.

Conhecer e aprofundar estudos acerca dos games pode servir para que jornalistas e webdesigners passem considerar positivamente a forma como os jovens aderem – ou melhor, “entram” – a esse mundo virtual, podendo render modelos de sites jornalísticos nele inspirados, pautados essencialmente na interatividade, o que, em conseqüência imediata, também leva a um maior grau de imersão do leitor no conteúdo ali presente.

A autora cita como exemplo de games da atualidade que viraram “mania” entre os jovens o “Counter Strike” e o “Second Life”. Apesar de integrarem-nos em contextos diferentes – no “Counter Strike” o jogador simula um cenário de batalha terroristas versus anti-terroristas e no “Second Life” o jovem pode “virar um personagem” e viver uma vida por ele controlada – esses jogos virtuais usam recursos visuais, sonoros e interacionais semelhantes, que envolvem os jogadores em suas respectivas “realidades virtuais”. Em razão disso, os níveis exacerbados de imersão ao conteúdo dos games são objeto de grande polêmica: o adolescente que se tranca no quarto e “conversa” o dia inteiro com amigos virtuais por meio dos chats não estariam  realmente interagindo com o mundo externo. Correm o risco de, na busca de uma vida melhor ou pelo menos diferente, passarem a viver “a segunda realidade” no lugar da primeira.

Quando se trata de games, tem-se um público formado principalmente por jovens do gênero masculino; mas, em se tratando do público construtor e leitor dos jornais online, a heterogeneidade é a característica. A evolução de linguagens e mídias envolvidas no processo comunicativo implicou a diversificação no perfil dos leitores da mensagem jornalística. Segundo a professora da PUC-SP Lúcia Santaella, há três tipos de leitor: o Contemplativo, leitor de livros, que usa da imaginação para a leitura seqüencial, que contempla e medita; o Movente, leitor da velocidade, de linguagens efêmeras e misturadas; e o Imersivo, o leitor integrado na era digital do século XXI, livre por poder realizar escolhas quanto a velocidade e a diversidade de conteúdo que consome a partir de um simples clique no mouse. Tais perfis não se excluem, podendo o leitor, ao ler um livro, ser Contemplativo e, ao navegar por sites da internet, exercer o lado Imersivo da leitura.

O princípio da interatividade – tão evidentemente presente no mundo dos jogos virtuais – nesse no novo formato jornalístico, o online, relaciona-se à ideia de feedback do usuário, quanto ao conteúdo que dele consome. A colaboração do leitor na construção da mensagem midiática e a quebra da linearidade tradicional na leitura de jornais e revistas são características relevantes no emprego do conceito de interatividade no webjornalismo.

Apesar de as experiências interativas serem, na maioria das vezes, relacionadas a uma total liberdade de participação do usuário/leitor no processo de construção da mensagem, ainda prevalece no formato de jornalismo online, principalmente nos sites de hard news, uma trivialidade nessa interação. Incluir enquetes que permitem ao leitor responder apenas “sim” ou “não” e relacionar matérias à hiperlinks diversos ainda são formas de, de certa forma, restringir a atuação do leitor a um formato, um layout, organizado e monitorado pela própria empresa comunicativa que deu forma ao site. Compreendem uma boa estratégia de aumentar a imersão do público no seu conteúdo, mas não necessariamente a interação plural e democrática dele com a mensagem veiculada em questão. A criação de fóruns e bate-papos nas páginas da web destinadas ao jornalismo se enquadra melhor na ideia de experiência verdadeiramente interativa, pois permite o debate, a exposição de argumentos diversos, a crítica, enfim, a atuação do elemento “internauta” na produção da Comunicação online.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Resenha de O Caminho das Nuvens

Cartaz do filme O Caminho das Nuvens
O nordeste do país é um tema muito explorado no cinema brasileiro. Vários filmes já retrataram a vida sofrida do nordestino, suas lutas e sua busca por uma vida melhor, muitas vezes por meio da migração para o sudeste do Brasil. A temática é, na maioria das vezes, retratada de forma pesada. A forma encontrada pelo diretor Vicente Amorim para relatá-la de modo mais leve foi transformar o filme em um road movie.  Inspirado na história real de um caminhoneiro desempregado que foi de bicicleta da Paraíba ao Rio de Janeiro com a mulher e os cinco filhos, O Caminho das Nuvens já começa na estrada. Na cena inicial, Rose lê para o marido, Romão, analfabeto, uma placa que diz “Praça do Meio do Mundo”. Mas a jornada deles não começou ali. Na cena seguinte, o filho mais novo do casal, ainda um bebê de colo – que, durante todo o filme, passeia pelo colo dos pais e dos irmãos – esquecido no meio da estrada, é quase atropelado por um caminhão. Na conversa com o caminhoneiro, o patriarca descobre que ele vem do Rio de Janeiro e talvez ali Romão tenha decidido o destino de sua viagem.
 
A religiosidade extremamente presente na vida do brasileiro, além da necessidade de conseguir um emprego que lhe pague mil reais, é o que norteia Romão em sua jornada. Antes de seguir para o Rio de Janeiro, o pai de família resolve ir a Juazeiro do Norte fazer uma visita à estátua de Padre Cícero. Romão carrega no nome sua fé cega pelo Padre, que é também aludida no nome do filho mais novo, Cícero. Romão acredita que seu “Padim” é a solução de todos os seus problemas, e isso é o que o dá forças para levantar a antiga mesa de Padre Cícero, que, segundo a crença popular, só pode ser erguida por aqueles livres de pecado. Sua religiosidade, porém, não é compartilhada na mesma intensidade pelo restante da família, principalmente por Antônio, o filho mais velho. Essa religiosidade exagerada é um dos motivos de divergência entre o pai e Antônio, que não consegue entender as razões do pai e o que os obriga a percorrer a jornada de bicicleta. Em uma passagem do filme, essa diferença entre eles fica muito clara. Após não conseguir ajuda de ninguém em Juazeiro, Romão diz a Rose que “quem dá aos pobres empresta a Deus”. Antônio então rebate com “E Deus, paga quando?”.
  
Romão e Rose, os protagonistas, na cena inicial do filme.


Na passagem da família por São Bento, o desconforto de Romão e seu tradicionalismo, no que diz respeito a quem deve sustentar a família, são deixados à mostra. Amparados por um vereador da cidade e por sua mulher, enquanto Rose começa a trabalhar tecendo redes, Romão consegue apenas promessas de emprego como caminhoneiro. Ele, então, resolve partir novamente em busca do tão sonhado trabalho que pague mil reais. Ao ouvir a sugestão de Jurema, a esposa do vereador, de que a família seja sustentada pelo dinheiro ganho por Rose até que apareça um serviço para Romão, ele responde: “A senhora me desculpe, mas isso não pode ser assim não”, deixando claro seu tradicionalismo patriarcal e seu desconforto com a incapacidade de conseguir o emprego que o permita sustentar os filhos e a esposa.
  

A trilha sonora de O Caminho das Nuvens é baseada nas músicas de Roberto Carlos, a quem o filme é dedicado. As músicas do cantor acompanham a família durante toda a jornada. A cantoria é sempre iniciada por Clévis, um dos filhos, e acompanhada pelos outros familiares. O garoto também acompanha, tocando violão, enquanto a mãe canta e arrecada dinheiro. As canções do Rei servem ainda como plano de fundo para que percebamos o amor de Rose e Romão. Em uma das cenas, ela canta para clientes de um restaurante, mas parece direcionar alguns dos versos da música para ele.
  
Ao longo do filme, acompanhamos ainda o amadurecimento de Antônio e os dilemas vividos por ele, suas várias tentativas frustradas de fumar um cigarro, suas contestações às escolhas do pai, que sempre repete que o filho não é um homem – embora o menino aproveite cada oportunidade para dizer que é, sim, um homem – e que, na idade dele, já ganhava dinheiro e tinha uma mulher.  Vemos sua tentativa de acabar com o sofrimento da família, comprando passagens para o Rio com dinheiro roubado – passagens que o pai rasga –, sua relação com Rodney, o irmão sonâmbulo. Presenciamos sua primeira desilusão amorosa, com uma moça vestida de Sereia, em Porto Seguro, no “parque temático” Caminho das Nuvens, onde o pai e os irmãos mais novos conseguiram um emprego como falsos índios e onde Antônio flagrou o pai numa postura ridícula. O garoto resolve ficar na cidade e não seguir viagem com os pais. Embora Rose diga que Antônio “não é dono da própria vida”, Romão percebe, nesse momento, que um pai não é o dono da vida do filho e que é preciso dar a ele liberdade para que decida seu destino. Após a decepção amorosa com a Sereia, porém, o menino segue o mesmo caminho dos pais e acaba reencontrando a família no Espírito Santo, onde permanece trabalhando numa construção civil, emprego arranjado pelo pai. Ao se despedir do filho, Romão, finalmente, lhe entrega um cigarro, como se reconhecesse que o filho tornou-se um homem, e diz que o próximo ele comprará com o próprio salário.
 
Ao chegar ao Rio, a família continua usando as músicas do Rei como fonte de sustento, complementando a renda vendendo bugigangas no Cristo Redentor. Percebe-se, porém, que Romão é um “homem da estrada”, como ele já tinha dito a Severino e Jurema, em São Bento, e que quer logo começar uma nova jornada, dessa vez para Brasília. Seu ímpeto é logo cortado pela mulher. A música de Roberto Carlos também é o elo entre a família no Rio e o filho que ficou no Espírito Santo. Rodney e Antônio, mesmo distantes, assistem ao mesmo show do cantor que embalou sua jornada. Nesse ponto do filme, também é ainda mais perceptível a importância que a viagem teve na vida de Antônio, que se recusa a vender sua bicicleta, lembrança que tem da família, para um colega de trabalho.
  
Rodney e Antônio, dois dos cinco filhos do casal.
Vários dos fatores apresentados acima, como a religiosidade e a crise da autoridade paterna, segundo artigo apresentado por Antônio da Silva Câmara, Doutor em Sociologia, permitem que a modernidade supere a tradição e que a fé que guia Romão enfraqueça durante a viagem. De acordo com Câmara, as temáticas que tipicamente retratam o Nordeste do país não ganham vez em O Caminho das Nuvens. A fome e a pobreza relacionadas ao trabalho do homem no campo não são relatadas no filme, e a maioria das agruras sofridas pelos personagens durante sua jornada poderia ter sido evitada, se não houvesse tanta insistência em viajar até o Rio de Janeiro. O filme representaria, portanto, a fuga de todas as regiões, já que o sofrimento pelo qual a família passa não é causado por fatores que seriam tipicamente nordestinos, e sim por dificuldades ao longo da própria viagem.
 
Por ser, basicamente, um road movie, há várias passagens da família de bicicleta na estrada. O filme é iniciado com uma tomada acima das nuvens e finalizado com uma vista panorâmica do Rio de Janeiro, que também termina acima das nuvens.  Em alguns momentos, quando a mãe e os filhos cantam Roberto Carlos, percebemos o pai, em plano de fundo, olhando para a esposa. Vicente Amorim promove muitos focos que nos permitem ler a expressão dos atores.

 A obra, com roteiro original de David França Mendes, é fruto de uma viagem de pesquisa que também gerou 2000 Nordestes, um documentário do mesmo diretor. Foi filmado em oito semanas em Juazeiro do Norte e nas cidades de Porto Seguro e do Rio de Janeiro. O Caminho das Nuvens foi o primeiro filme brasileiro produzido pela Miravista, empresa criada pela Buena Vista International para co-produzir filmes na América Latina. Foi ainda o oitavo filme produzido pela Filmes do Equador após a retomada do cinema brasileiro.



Fontes consultadas
http://oolhodahistoria.org/artigos/IMAGEM-o%20caminho%20das%20nuvens%20antonio%20camara-alunos.pdf
http://www.autoresdecinema.com.br/arquivos/ocaminhodasnuvens.pdf
http://www.filmeb.com.br/quemequem/html/QEQ_profissional.php?get_cd_profissional=PE484
http://www.meucinemabrasileiro.com/filmes/caminho-das-nuvens/caminho-das-nuvens.asp

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Programa Radiojornalístico "Repórter Sintonia"

O programa simula a cobertura jornalística do 3º Festival de Música Popular Brasileira, ocorrido em 21 de outubro de 1967 e exibido pela TV Record. A ideia foi enquadrar os fatos e curiosidades do polêmico e aclamado evento num formato essencialmente radiojornalístico retrospectivo, usando de técnicas de áudio, vinhetas e músicas da época, para "fazer pensar" que o programa foi ao ar um dia após o festival.

Confira o resultado no Soundcloud:

Temática, roteiro, edição e locução foram realizados pelo famigerado grupo de alunas de Jornalismo da UFC, Alissa Carvalho, Beatriz Ribeiro, Camila Mont'Alverne, Gabriela Custódio, Kel Lima e Thamires Oliveira, para a disciplina Radiojornalismo I, em 2011.2.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Entrevista com o Mino - Parte III

Nessa parte, Mino fala sobre o advento das mídias digitais para a publicação de produções artísticas, o fenômeno “mangá” e a transposição do público dos quadrinhos – antes jovem, hoje cada vez mais adulto –, e comenta sobre a charge política e a “gaiatice” dos políticos brasileiros. 
As fotos são da Gabriela Custódio. Pra ver mais fotos da entrevista com o Mino - e muitas outras bem legais -, dá uma checada lá no blog dela ;) http://meumundoenquadrado.blogspot.com/


Mino, por Gabriela Custódio
Panz! - A gente sabe que o espaço impresso parase publicar cartum ou charge é muito pequeno, e na internet ocorre um fenômeno recente que é a criação de sites destinados especialmente para publicar cartuns, tirinhas, etc. Como o senhor avalia isso?

Mino – Eu acho que isso é uma coisa muito boa, tanto quanto foi o cinema para o teatro. Quando começou essa história, o teatro viu-se ameaçado. Vinha desde o tempo dos gregos: teatro, teatro, teatro... Ai vem o cinema: pronto acabou o teatro! Mas tá ai o teatro. Ai veio a televisão: pronto acabou o cinema. Tá aí o cinema! Ai tá aí a internet, o que vai ser da imprensa... Não acaba! Tem um somatório de coisas fantástico. Eu tou me preparando para daqui a uns tempos “ internetzar” esse material [a Rivista]: fazer algumas animações, criar um site, aquela coisa toda. Só não sei como passar isso agora, e eu não tou preocupado agora, porque eu não tenho capacidade de ir lá e fazer isso, mas assim que aparecer um internauta bom... Meu filho já tentou fazer com a parte das pinturas, e eu já tou selecionando as fotos para jogar lá. Antigamente a gente fazia um catálogo “dessa grossura”, que para vender tinha que ser por cem reais, e para fazer você imagina o preço. Mande pelos correios um bicho desse tamanho e você já fica pobre. Isso mudou. Eu posso ter um catálogo para mandar para alguém de vez em quando, mas esse catálogo pode ir na internet. Ganha o mundo.
Só que o pessoal tá pensando que a internet é uma coisa meio miraculosa. Ela tem suas limitações. Eu, apesar de não saber manejar, sei de uma coisa: se eu botar 700 quadros na internet, muita gente que tá pesquisando pintura brasileira vai chegar lá. Mas também se eu mandar um bilhetinho “desse tamanhinho” pelo correio, o velho correio, se eu mandar 3 mil bilhetinhos desses dizendo para alguém, lá na China, por favor acesse meu site, esse alguém lá na China entra no site. Mas eu vejo tudo que chega de novidade como uma coisa agregadora. Rapaz, quem é que vai substituir aquele livrinho que você bota pra cá, bota pra lá, que você dorme com ele? (risos). E as pessoas que adoram o livro mesmo, que cheiram o livro, que têm coleção... Tem gente que guarda o livro só pela beleza. Tem outros que lêem mesmo. É a paixão pelo livro, e eu acho que essas coisas não são substituíveis. Tem várias peças de teatro que foram filmadas e que viram filmes, e filmes que viram peça de teatro. E história em quadrinhos que vira filme. A coisa que eu achei mais fantástica foi o Batman e os quadrinhos ganhando a magia do cinema! Nunca pensei que o cinema fosse capaz de fazer isso! E o que eu acho bacana é que isso é que é cinema de arte para mim, porque aquela tecnologia é arte pura.


Panz!- De uns tempos para cá, a gente observa uma tendência de quadrinhos direcionados para adultos, o que é observado principalmente nos mangás. Como você enxerga essa transposição do público dos quadrinhos?

M- Eu ainda não arregalei os olhos para essa história de mangá, porque eu ainda não li nenhum. Eu sei que deve ser uma coisa espetacular, para reunir quarenta mil pessoas num negócio desses [SANA]. Deve ser um negócio incrível, mas eu ainda não alcancei. Não tive tempo ainda de chegar e pegar uma revista de mangá. Aliás não é só mangá, não. As revistas atuais mesmo de Batman e de outras coisas, eu tou muito tempo longe disso. Eu tenho até medo de desencantar um pouco. Eu não sei por que eu não tenho mais tempo de ler uma história em quadrinhos como eu tinha antes. Eu gostava! A maior alegria do mundo era uma coca-cola, um sanduíche e um abajur aqui e eu na cama lendo uma história daquelas: do Mickey, do Pateta, do Pato Donald e outros personagens que tinham que eram engraçadíssimos. Mas eu não entendo não [os mangás]. Tem aqueles raios, aquelas coisas todas... Não sei se isso é tão benéfico, não sei se pelo fato de eu conhecer, quanto o trabalho da Disney, porque quando você vê um desenho animado da Disney, aqueles desenhos cheios de ternura, o que é melhor para cabeça dessa geração, ou de qualquer geração, esse mundo encantado ou esse mundo mais pesado? Eu não sei. O futuro é que vai dizer. Mas o fato é que os meninos tão botando para dentro da cabeça muita coisa pesada. Um dia desses, tava passando um filme que, quando eu vi uma cena, eu não acreditei. Um cara amordaçando uma mulher, o outro filmando, ai ele pega uma faca “deste tamanho”, e eu disse: isso é bem algum truque que esse cara vai fazer, ai páaaaaaaaaa! E o sangue espirrando, ai páaa... na frente da televisão! Olhe, eu vou dizer uma coisa a você: nós nunca assistimos a um filme que tivesse isso a uns trinta, quarenta, cinquenta anos atrás! O que é que isso vai gerar na cabeça de uma pessoa?! Eu desliguei logo, porque eu sei que ali pode virar pesadelo, porque eu não tomo mais banho de mar tranquilo por causa de “Tubarão” (risos). Um dia desses, eu ouvi um cara dizendo mesmo: o Spilberg deu para todo mundo o medo do mar. Antigamente eu ficava boiando na água do mar. Uma vez eu fui pra fazenda do meu sogro, quando foi de noite, minha mulher me pediu para ir comprar coca-cola num lugar que era lá do outro lado do açude, num escuro danado! Eu fui. Quando foi na volta, que eu vim no escuro, tudo quanto era monstro de cinema apareceu (risos)! Eu comecei a ficar com medo e pensei: rapaz, isso não existe não! Isso é coisa de cinema! Aqui deve ter é uns “bichim” por aqui, uns passarinhos, umas cobras (mais risos)! É o medo alojado na cabeça da gente. É de tanto ver filme. Desde “Psicose”, com aquela cena lá: pam, pam, pam... Se eu vir uma banheira, e um chuveiro aberto, pronto (risos)! Eu não sei se isso é bom, porque dizem os psicólogos que isso faz parte da psiqué da gente, esse negócio de ter medo, e conviver com esse negócio, né?Eu não sou capaz de fazer isso. Eu não sou capaz de imaginar fazer um livro, uma história, com esses ingredientes de jeito nenhum. Eu faço brincando. Tem até um episódio do Capitão Rapadura do tipo suspeito, que a mulher dele liga e diz: venha cá, tem um tipo suspeito aqui na esquina. Ele vai com aquela velocidade dele todinha e quando chega lá diz assim: “alto lá, tipo suspeito! Quem é você?”. Ele diz: “sou um tipo suspeito”. O capitão diz: mostre sua carteira. Ele mostra a carteira e tem lá: tipo suspeito (risos). No final da história, a mulher dele pergunta: “Afinal, Capitão Rapadura, quem era aquele homem?”. Ele diz: “era só um pobre tipo suspeito” (mais risos). Mas voltando ao mangá: ainda não li. Ainda não tive a oportunidade de ler. Por isso que eu não posso fazer nem a crítica, nem o elogio, nem nada. O elogio eu faço pelo resultado, que não deve ser à toa. Mas também não vou elogiar a tatuagem porque tem mil pessoas tatuadas. Tem tantas coisas no mundo que eu não entendo. O mangá é mais fácil de explicar porque é desenho, é bonito e deve ter algum substrato. Mas por exemplo, a tatuagem eu não entendo. Eu não entendo como é que uma moça de uma pele dourada, bonita, faz uma marmota daquelas (risos)! E não sai, né? Às vezes eu não entendo essa geração de hoje. O meu filho com piercing na orelha, o José, e eu disse “toda vez que você furar a orelha eu furo também viu, Zé?”. Ele disse: “você não pode, você é meu pai!” (risos). Eu não entendo, deve ter alguma razão.

Gabriela, Murilo, Alissa, Carlitos e Pedro, a galera da Panz!, no ateliê do Mino

Panz! - O senhor disse uma vez, em uma entrevista, que tinha parado de fazer charge porque "o político por si só já é engraçado". E, hoje, o Tiririca foi eleito o deputado mais votado do país. Qual é a opinião do senhor sobre esse assunto?


Mino - Eles são gaiatos, mas eles não têm graça. Eles dizem e fazem tanta besteira que, se você juntar tudo, dá uma obra fantástica de comédia. O que tá incomodando eles [os políticos] nessa história do Tiririca é que ele é o retrato, a caricatura, a charge da política atual. A cara do nosso Congresso. E ele é a cara inocente, porque é um palhaço. Ele não vai roubar ninguém. Ele não tem capacidade de roubar milhões. E quanto mais grosso um político fala, mais ladrão ele é. Não são os analfabetos que estão roubando milhões, são os altamente alfabetizados. É raríssimo você encontrar um homem de bem. Eles estão saindo. Enquanto Collor volta, Guimarães volta. Nós, cartunistas, que somos simples artistas, estamos cada vez mais políticos em nosso ponto de vista. Mas eles, políticos, se observados, é que estão ficando cada vez mais engraçados.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Cobertura Fotográfica "Perspectiva Musical"

Tião Simpatia e banda, no lançamento do seu DVD | Por Beatriz Ribeiro

Essa sequência fotográfica foi apresentada na disciplina de Fotojornalismo I, ministrada pelo professor Elian Machado. O trabalho foi realizado por mim, Alissa, Gabriela Custódio, Kel Lima e Thamires Olveira, quando entramos num consenso quanto ao tema da cobertura. Música inspira gestos, trejeitos, caretas, movimentos únicos. Retratá-los em concertos soou como capturar o sentimento dos músicos, que a produzem ali, naquele instante, ao vivo.

Fagner, em show no anfiteatro do Centro Cultural Dragão do Mar | Por Alissa Carvalho

Buscamos muitas perspectivas nos vários estilos musicais contemplados. A performance da banda, os instrumentos utilizados, a animação do público: todos esses aspectos foram capturados pela equipe na tentativa de abordar o máximo desse contexto tão abrangente.

Confira aqui parte do resultado dessa abordagem fotográfica:

Vocalista da banda Leite de Rosas e os Alfazemas, em show nos porões do Teatro José de Alencar | Por Beatriz Ribeiro 

Luzes nos pratos da bateria da banda de rock da cidade, a Lótus Negra, em show no bloco do curso de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará | Por Alissa Carvalho

Tião Simpatia no violão, no lançamento do seu DVD | Por Beatriz Ribeiro

 Fagner, em show no anfiteatro do Centro Cultural Dragão do Mar | Por Alissa Carvalho

Plateia atenta ao show do Fagner, no anfiteatro do Dragão do Mar | Por Alissa Carvalho

Bateria da banda Leite de Rosas e os Alfazemas | Por Beatriz Ribeiro

Essas fotos são as da Alissa e minhas, mas as outras meninas da equipe fizeram fotos muito lindas também. Para ver o resultado da cobertura na íntegra, acesse o blog da nossa turma de Fotojornalismo I, o Olhares UFC, e o flickr.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Entrevista com o Mino - Parte II

Nessa segunda parte, Mino fala sobre o trabalho com a internet, os problemas de se criar uma revista e seu personagem mais conhecido, o Capitão Rapadura. Fotos, mais uma vez, da Gabriela Custódio.

Mino



Panz! - Mino, o senhor nos fala que não tem muita paciência para assistir televisão. E com a internet? O senhor tem acompanhado?

Mino - Eu sou um primata na internet (risos). Não sei nem lidar com o computador ainda. Eu sei o que ele faz, e trabalho junto a alguém que sabe mexer. Conheço só as técnicas que existem nele, e sei que todas as técnicas que existem no mundo estão lá dentro. Mas eu sei que esse “bicho” é perigoso! Teve uma vez que eu fui na Verdes Mares, e tinha um cara que era um “crânio”, mas o cara já me recebeu de cara feia porque eu tava atrapalhando o programa dele. Deu uma hora de aula, eu do lado dele e ele falando sozinho. Decidi procurar outra pessoa. Não encontrei um professor que me passasse o que era o computador! Meus amigos me enchiam o saco: “você precisa ter um computador!”. Um eu disse: “agora eu preciso ter um. Isso não quer dizer que eu vá aprender a mexer, mas eu preciso ter”. Fui em uma agência de publicidade e lá tinha a Edileusa, que me mostrou como é esse negócio de desenho no computador. Eu fiz um desenho fora e ela colocou no escâner. Ai eu fui dizendo: “faça um céu aqui uma bolinha ali...” O desenho ficando bonito e eu, entusiasmado. Chamei a moça para trabalhar comigo e a partir dai eu comecei a transpor os meus desenhos para o computador: eu ao lado dela. Fui dizendo como colorir o desenho de tal forma que hoje, o Simões, que é o cara que trabalha comigo, já sabe praticamente o que eu quero. Se eu tivesse fazendo essa parte, eu não estaria com essa quantidade de trabalhos toda. Eu quero é mas gente trabalhando, e se eu tivesse mais dinheiro colocava mesmo.

Panz! - E qual a dica que o senhor dá para quem quer fazer uma revista?

Mino – Simplicidade no começo. Milôr Fernandes uma vez reclamou do Ziraldo porque quando ele tava fazendo essa revista [a “Bundas”, lançada por Ziraldo em 1999] ela tinha marca d'água, tinha uma coisa em cima da outra, uns desenhos saindo daqui, outros saindo dali. Ele dizia: “rapaz, os chineses, não foi à toa que eles inventaram essa leitura que vem da esquerda para a direita e descendo e toda a nossa leitura é feita nesse sentido. Não adianta complicar que você não vai inventar outra coisa além disso. Então deixe uma coisa boa para o leitor ler, e faça uma boa ilustração pro leitor ver, e se você tem uma coisa que quer que o leitor não veja, esconda!”. Hoje as revistas, depois da era do computador, tem super efeitos especias, mas o roteiro se perde. Então, eu acho que é a simplicidade. Depois, começar com pequenas páginas. O que eu acho interessante é o seguinte: só começo pelo número zero. A primeira edição que eu fiz tinha número zero: “Almanaque Mino número zero.” Isso é para não perder essa noção de que você tem que começar pequeno. Se você começar com oito páginas, tá ótimo. Depois que dominar as oito, vai para as dezesseis. É aquela coisa da simplicidade mesmo. Daqui a pouco você começa a criar e inventar umas coisas, e o próprio material que você tá criando já começa a pedir de você. E ai depois que você começa a fazer, você vê o seu próprio trabalho impresso e ele lhe impressiona. Ai você se vê no seu trabalho e acontece uma coisa diferente com você que te torna melhor.

O negócio é não parar, poque você sempre volta melhor. E você já entra no conjunto que existe no mundo, que a gente não fala muito nas escolas porque é confundido com espiritualidade e filosofia. Mas o fato é que nós estamos em um universo que está regendo as coisas de uma maneira correta. As coisas erradas tão por conta da gente. Nós somos os únicos seres capazes de errar, né? Esse é o grande privilégio que a gente tem. A natureza não erra. Os animais não erram. São todos instintivos e bem programados, mas o homem erra poque é livre, ele é coparticipante desa programação. Então ele é utilizado de uma maneira mais evoluída, que é a nossa participação, e a inspiração vai vir de lá, tá dentro de você e vem de fora também. Os gregos achavam que vinha só de fora, que eram as musas. A inspiração também vem dos outros. Uma frase que você fala aqui alguém completa e vira uma frase de efeito. Nada é nosso e tudo é nosso, e deve-se ter um respeito poque na hora em que você for pegar uma coisa que já vem muito burilada na sua mão você tem que citar as fontes. E aí a Filosofia entra na Ética. Eu deixei de fazer charge poque eu não queria agredir mais ninguém. Porque o Fernando Henrique Cardoso pode ser o pior homem do mundo, Dilma, Serra... mas eu acho que nessa hora você tá falado de uma pessoa, de um pai de família. Tem que respeitar. Você não pode chegar e debochar, mostrar um retrato dele como se o caráter dele fosse aquilo. Eu aprendi isso com uma surra que eu levei do meu Pai. Eu tinha entre 5 e 7 anos de idade. Tinha uma senhora que morava na nossa rua que, a bichinha, tinha bigode. Ela ia passando no meio da rua e o apelido dela era “bigodeira”, e eu gritava: “bigodeira, bigodeira...”. Papai chegou no jantar e disse assim: aqui nessa casa eu bato em qualquer pessoa que chamar aquela senhora de bigodeira! Tem que ter respeito pela senhora!”. Na mesma hora eu sai lá na porta, que era na Dom Manuel, abri a porta e não tinha ninguém na rua. Ai eu disse: “bigodeira...” Meu pai me deu uma surra, e foi uma coisa que eu nunca esqueci.

Explorar um defeito físico, ou ridicularizar o ser humano, algumas vezes eu cheguei a fazer isso, mas quando fazia era um remorso danado, ai nunca mais fiz. Acabei abandonando a charge, porque a charge é sempre criticando o pessoal. O chargista não pode ser a favor, já pensou num negócio desse? O Neno [Cavalcante, editor do Diário do Nordeste] foi quem me disse isso. Fui fazer uma charge uma vez elogiando o Tasso, que tinha sido eleito, ai ele disse: “ei, Mino, chargista não pode ser a favor!”. Eu fiquei com raiva do Neno, mas ele tinha razão. Depois eu passei a fazer o cartum, que é uma coisa mais da gente, uma crítica nossa mesmo. Nós é que somos engraçados.

Mino desenhando o que seria a capa da edição zero da Revista Panz!


Panz! - Mino, nós sabemos que o Capitão Rapadura foi considerado pela mídia como o maior representante do que seria um herói genuinamente brasileiro. Por que surgiu na sua cabeça a ideia de fazer um herói brasileiro?

Mino – Na realidade, ele seria a caricatura de um super-herói. Não é nem ser um herói brasileiro, é ser a caricatura de um super-herói. Então um super-herói nordestino, imagine como seria.. Teria que andar de jumento, comer rapadura e em vez do pó de pirlimpimpim seria a farinha d'água, ou coisa do tipo. Era mais uma brincadeira. Tanto que as primeiras histórias dele eram brincadeira. Agora quando ele começou a fazer as histórias dele, que ele passou a voar, parece que ele entrou num contexto do Capitão Marvel, do Super-Homem, então ele virou um meio super-herói cearense. Mas é uma brincadeira na realidade, é mais uma gozação. Como é que pode a gente ter super-heroi aqui, né? Mas a colocação que os jornalistas fizeram e que os pedagogos fizeram é o seguinte: que o Brasil, além de não ter super-heróis como Zorro ou o Super- Homem, gosta é do anti-herói. Gosta do Macunaíma, do Zé Carioca. O brasileiro gosta mais disso.

Disseram que para ter o perfil de um super-herói, ecologicamente correto, sem violência, o Capitão Rapadura se apresentava como sendo o melhor. E realmente é poque as historinhas dele não têm pancadaria. Ele não dá soco. Ele pode até levar, mas ele não dá (risos). E o engraçado é o seguinte: todas as histórias do Capitão Rapadura eu tenho ainda aqui guardadas, inéditas. São pouquíssimas histórias do Capitão Rapadura que saíram. E ele é uma lenda! Cheguei em um colégio uma vez, lotado, cheio de gente, e disse: “vou fazer um teste aqui. Quem conhece o Capitão Rapadura aqui levanta a mão. Todo mundo levantou! A segunda pergunta foi assim: “quem já leu uma história do capitão rapadura?” Ninguém. Mas eu tenho as histórias dele, para esse ano [2010]. Tou teimando para esse ano aqui com a ajuda da Socorro, que tá trabalhando comigo, para lançar pelo menos uma das histórias dele para o público conhecer melhor o que ele representa. Porque realmente ele mostra que a Gotham City, a metrópole dele, é Fortaleza, e todas as aventuras são assim: em Quixeramobim, em Tianguá, na bica do Ipu... 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Entenda o calendário de matrícula da Casa de Cultura Britânica

Está todo mundo de férias, relaxado e completamente desligado das obrigações acadêmicas. Mas fique esperto, que o período de matrícula dos alunos veteranos do curso de língua inglesa da Universidade Federal do Ceará, a Casa de Cultura Britânica (CCB), já começa semana que vem.

O calendário acadêmico oficial está disponível no site da CCB - que, aliás, foi atualizado, organizado e está de cara nova desde o começo de dezembro. A matrícula dos veteranos será realizada segunda (09) e terça-feira (10), organizados de acordo com o semestre que o aluno concluiu e com o semestre que ele vai cursar.

Mas, se está tudo tão organizadinho, tão claro lá no site, por que cargas d'água eu tô lendo esse post? É só ver o calendário que tem lá e "entender" a data da minha matrícula, num é não? Aí é que tá! Cada aluno vai ter apenas um dia pra efetuar o pagamento semestral - no valor de 80 reais - e preencher a ficha de inscrição. Ou é no dia 09 - no caso de "aprovados nos semestres II, III e IV" - ou é no dia 10 - no caso de "aprovados nos semestres V, VI, VII e UPPER. Mas aí surge a dúvida: quando ele diz "aprovado no semestre" tal, fala do semestre que eu concluí ou do que estou apto a cursar?

Eu mesma não tinha entendido isso e, como vou fazer o V e qualquer tipo de dúvida quanto a data podia me fazer errar a certa e perder a matrícula, fui atrás de esclarecer isso aí. Liguei para lá e foi dito o seguinte:
No primeiro dia (09), será matriculado o aluno que vai cursar o semestre II - portanto concluiu o I -, vai cursar o semestre III - portanto concluiu o II - e vai cursar o semestre IV - portanto concluiu o III. No segundo dia (10), será matriculado o aluno que vai cursar o semestre V - portanto concluiu o IV -, vai cursar o semestre VI - portanto concluiu o V -, vai cursar o semestre VII - portanto concluiu o VI - e vai cursar o UPPER - portanto concluiu tudo isso aí e é uma pessoal craque no inglês ^^.

Então é isso, acho que agora não dá mais pra errar o dia =)
Boa volta às aulas!


Serviço:
Calendário Acadêmico da CCB: http://www.culturabritanica.ufc.br/pages/calendario.html

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Entrevista com o Mino - Parte I


 Outra pauta que faria parte da edição zero da Revista Panz! é essa entrevista com o cartunista cearense Mino. Ele é o criador do Capitão Rapadura, um legítimo super-herói brasileiro, e, além de cartunista, é pintor, artista plástico, poeta, ilustrador e autor de histórias e contos infantis. Hoje, Mino edita a “Rivista”, uma publicação mensal lançado pela editora do cartunista, a Riso, e distribuída em colégios cearenses.

A entrevista foi feita por mim, pelo Pedro Brandão, o Carlitos Pinheiro, o Murilo Viana e a Gabriela Custódio, que também tirou as fotos. Conversamos com o Mino por cerca de duas horas. A entrevista ficou extensa e, por isso, será dividida em três partes. Nessa primeira parte, ele fala sobre alguns momentos do início da carreira, do trabalho com os criadores do jornal O Pasquim, da sua obra mais querida e do momento atual do humor brasileiro.
Mino

Panz! - Dessa sua carreira bastante extensa, qual é o momento que o senhor lembra com mais carinho?

Mino - Foram momentos tão diferentes. Teve um momento maravilhoso, vocês não tinham nem nascido ainda, eu acho, foi um programa chamado Flávio Cavalcante. Era um programa tipo o Sílvio Santos, mas com uma audiência única, de peso realmente, todo mundo tava ligado naquele programa. Ele fazia muita coisa. Uma dessas que ele fez foi um concurso nacional chamado Fora de Série, e cada estado tinha que apresentar uma coisa fora de série. O pessoal aqui da TV Ceará., João Ramos, Guilherme Neto, esse pessoal todo, eles resolveram me colocar como fora de série, porque eu desenhava em tempo real no noticiário, que era o Jornal Nacional da época, chamado Repórter Cruzeiro. Não tinha nada gravado, tudo era ao vivo. Eu ficava perto da prancheta, com papel, pincelzinho atômico na mão. E tinha um roteiro, então eu sabia o que o locutor estava falando e ficava acompanhando. Quando chegava na minha parte, eu sabia que o assunto que você ia falar era esse, então eu já me preparava. Quando você começava a falar, eu começava a desenhar um cartum de acordo com o que você tava falando. Quando houve esse concurso nacional, eles me colocaram pra desenhar, porque eu desenhava rápido, não chegava nem a um minuto. Então eu fui lá, era a primeira vez em cadeia nacional. Comecei a desenhar os jurados, para puxar o saco, desenhava de um por um. Teve uma hora que eu fiz um desenho que eles não entenderam. Eu fiz um desenho de cabeça para baixo. Aí disseram: mas que desenho é esse? Eu virei o desenho pra cima e era do Erlon Chaves, que era o maestro do Flávio Cavalcante. Eu ganhei esse concurso. Foi um momento muito importante, porque o Ceará tava todo torcendo nessa época. Foi muito gratificante.
O segundo grande momento foi com o Pasquim, quando eu comecei a me entrosar com o pessoal do Pasquim e os trouxe pra Fortaleza em 1972. Fizemos a Feira da Comunicação, que foi um negócio espetacular, não vale nem a pena falar aqui porque foi grande demais, um espetáculo mesmo. Se vocês pegarem os arquivos de jornais de 72, vão ver que nunca houve um espaço tão grande na imprensa cearense para um evento. Naquele tempo, toda a imprensa colaborou. Ela se abriu mesmo, dava página inteira, fazia tudo. Porque era o seguinte: tudo o que fosse comunicação entrava nessa feira. Tudo. Corpo de bombeiro, por causa da sirene, trânsito, logotipo, logomarca de empresa, locutor, sino. Tudo entrava, inclusive dança, que era uma forma de se comunicar. Foi espetacular esse momento. Porque o Pasquim conheceu um nordeste que o sul não conhecia. Ziraldo ficou encantado com duas coisas: primeiro com o céu, disse que nunca tinha visto um céu tão azul. Azul ecoline, que era a tinta que ele gosta de usar. E realmente o azul do céu cearense é um azul ecoline mesmo; e a pobreza limpa. Eles foram caminhar na praia, e naquele tempo ali na beira-mar não tinha esses prédios, era um caminhozinho limpo. E eles se perderam por ali, foram ficar na casa dos pescadores, aquela coisa toda. E voltaram impressionados. Pediam água, vinha aquele copo de alumínio bem ariadozinho, água cheirosa, aquela coisa toda. Ele disse que era a pobreza mais limpa do Brasil. De 72 pra cá, transformou-se nessa miséria.
A terceira coisa foi o “plim-plim” da Globo, as vinhetas. Foi até resultado, inclusive, desses amigos do próprio Pasquim, que vieram aqui, o Miguel Paiva e tudo mais. Quando eles estavam compondo, na direção da globo, a ideia de fazer as vinhetinhas, me chamaram.
E outra coisa coisa mais eram os salões que de vez em quando eu entrava, tirava uma participação, primeiro lugar, segundo, terceiro, menção honrosa, sempre emplacava alguma coisa. Eu não fazia humor no Ceará, eu não fazia cartuns. Eu fazia charges pros jornais, que eu deixei de fazer porque achei a coisa mais besta do mundo depois. E aí eu participava dos salões. Onde tinha um salão eu tava entrando. Tanto que agora teve uma comemoração lá em Piracicaba, e eu entrei na categoria dos ratos de salão, aqueles que estavam sempre nos salões, sabe? Era o entusiasmo da gente em querer participar. Hoje eu não tenho mais coragem. Porque os cartuns dos meninos que se especializaram em participar dos salões é um nível que você não pode imaginar, um negócio fantástico.

Panz! - E qual é a obra que o senhor gosta mais?

Mino - Tem um livrinho chamado O menino iluminado. Para mim, ele tem uma importância social muito grande porque ele é um livro altamente espiritualizado sem ser, entre aspas, religioso, embora ele seja religioso. Mas ele não tem aquela conotação de você pegar e “ah, é um livro evangélico, um livro católico, budista”. Tá tudo junto. É a história de um menino que quer ver Deus e começa a fazer esse questionamento para o pai, para a mãe. É baseado em várias histórias. Eu me lembro do Ariano Suassuna. Uma vez perguntaram a ele muito tempo atrás, quando ele fez O Auto da Compadecida, e começaram a citar pra ele dizendo: “ah, mas você tirou isso aqui, isso aqui é de um trecho lá num sei da onde, de uma peça tal, esse outro trecho que você usa aqui faz parte de um cordel num sei da onde”. Aí ele disse: “exatamente, eu não fiz nada”. Com aquele jeitão dele. “Eu fiz uma coisa só, eu fiz a peça. Eu dei um ordenamento naquilo, nada disso aí é meu.” E essa história d'O Menino Iluminado, apesar de ser uma coisa ingênua, você vê pelo traço infantil, ele é uma história que uma tia minha que me botava pra dormir me contava. Um tempo depois eu fui para uma fazenda e conheci um cara maravilhoso, um cara do campo, que me contou uma história que era a mesma história com outra roupagem, com esse português do campo. E aí depois com a influência do Ziraldo, com esse negócio de Menino Maluquinho, com essa fase do Ziraldo de literatura infantil, eu disse: eu só posso contar essa história se botar num contexto atual. Aí a descoberta do contexto foi botar um menino que pergunta aos pais o que é que ele pode fazer pra ver Deus. E aí começa essa questionamento. E o arremate, que eu não vou dizer pra vocês, realmente, é um livro de 8 minutos apenas de leitura, o arremate é fantástico. Faz a pessoa compreender livros e livros de filosofia, e até mesmo de livros religiosos, porque acaba sendo uma resenha simples do que é ver Deus, a essência da religião. Então é um livro que a história não é minha. Não tem literatura, não tem desenhos espetaculares, ele é bem simples. Não tem humor. Ele é destituído de humor. É um livro infantil feito para um pai ler para o filho, para um menino de qualquer idade já ler sozinho.

Pedro entrevistando o Mino

Panz! - Falando agora de forma mais geral do humor brasileiro, a gente queria saber qual é a avaliação que o senhor faz desse humor que está sendo construído hoje?

Mino - Com a saída do Chico Anysio e da velha guarda, eu senti muito. Porque, por exemplo, o pessoal do Casseta&Planeta, apesar de serem supercriativos e interessantes, talvez por representarem a nova geração, eu não sou aquele fanático. Se tiver passando, eu paro um pouquinho pra ver, mas aquilo não me dá aquela coisa da risada, aquela coisa que vem de dentro e você ri por uma besteira qualquer. O Sai de Baixo, que tinha o Tom Cavalcante, o Miguel Falabella, aquele ali já me dava, porque evocava uma coisa antiga. Já era uma coisa baseada na Família Trapo, com o Golias. Já vinha de lá, daquele humor teatral, aquela coisa, com algumas apelações, mas nem sempre a apelação em primeiro lugar. E o Casseta eu achava assim uma coisa meio agressiva, metralhadora para todos os lados.
Como o humor daqui do Ceará também, que eu vi quando ele tava nascendo, com a Raimundinha, que foi o primeiro. Depois começou o escracho, escracho, escracho. Eu já não queria mais ir aos shows, porque de repente eles podiam vir de lá e brincar com a platéia, e eu sou tímido e não gosto de ficar com brincadeira. Aí eu ficava lá atrás, aquela coisa toda, né. E depois eu fui esperando que eles crescessem em coisas mais engraçadas, mas não, eles continuaram com a mesma linguagem. E eu tenho impressão que eles estão num estágio que eles não tão crescendo por falta de, vamos dizer assim, talvez da própria emissora em que eles trabalhem, sabe. Porque com o talento que eles têm, tanto na parte de humor, como na parte de atuação, que eles são fantásticos.
Eu acho que, se o cearense fizesse novela, e não imitasse o padrão Globo, quer dizer, se não tivesse a mesma imitação que eles fazem aqui quando fazem o noticiário, que não tem diferença, é o padrão Globo mesmo. Teriam grandes novelas, teriam grandes teatros. E aí o meio, ele sufoca isso. Vou dar um exemplo do próprio mercado cearense, que enche o teatro quando vem uma peça de fora, e quando é uma peça local é um sacrifício, agora que tá melhorando um pouco, que a imprensa antigamente não dava importância... o Ricardo Guilherme diz que a nossa cultura é uma cultura de frente pro mar, quer dizer, você tá sempre esperando as coisas de fora, dando valor as coisas de fora e dando as costas pra cultura local.