sábado, 14 de abril de 2012

Punir agora para educar quando?

A estátua da Iracema Guardiã, localizada na orla turística de Fortaleza e considerada um dos mais significativos cartões postais da cidade, amanheceu depredada no dia 21 de março. As mãos vazias dela foram serradas durante a madrugada. Vazias porque, menos de uma semana antes, o arco que seguravam foi encontrado no chão e levado por agentes da Prefeitura. Sobrou lá uma feia virgem dos lábios de mel para representar o célebre romance do autor cearense, José de Alencar.

Diante de tais casos de depredação, aciona-se a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, que trata de checar o sistema de câmeras de segurança, a fim de identificar e punir os autores da façanha. Mas será que apontar o dedo para quem apareceu nos monitores, tachá-lo de “vândalo imbecil” e o jogar no fundo de uma cela é a melhor forma de construir uma consciência cidadã acerca da importância social e histórico-cultural atrelada ao patrimônio público da cidade?

Segundo o artigo terceiro da Lei Municipal Nº 9347, “compete a todo cidadão preservar o patrimônio histórico-cultural e natural, zelando pela sua proteção e conservação”. E à Coordenação de Patrimônio Histórico-Cultural, órgão que integra a Secretaria de Cultura de Fortaleza, cabe elaborar políticas públicas de educação patrimonial, além de também o preservar e proteger.

O que acontece, porém, é que, numa cidade que dispõe de legislação e equipamentos específicos, além de uma ampla rede de ensino público, ainda falta educar os cidadãos quanto à preservação e ao uso apropriado do patrimônio público. Dizer que aquela estátua está ali só porque chama turista e não é pra “bulir” nela é uma coisa. Explicar a importância da figura de Iracema na cultura da cidade, fazendo referências a passagens da narrativa literária cearense, é outra completamente diferente.

Dispondo de poucas ou nulas campanhas de conscientização e aulas direcionadas nas escolas de ensino fundamental e médio, os fortalezenses, pessoas comuns que vemos e somos, seguem subindo no pedestal de um monumento, arrancando a pintura do banco de um ponto de ônibus, pichando, por diversão, um muro recém pintado. Seguem mal cuidando dos bens públicos que dispõem. A falta não é exclusiva daquele garoto com uma lata de spray na mão, da menina que escreve à caneta seu nome no banco do ônibus, ou mesmo de quem serrou as mãos da Iracema Guardiã. A falta é também – e antes de tudo – de uma administração municipal que se abstém da responsabilidade de mostrar à população as dimensões do valor sociocultural negativo do ato de depredar.

O vândalo – usando do tom devidamente agressivo que o termo demanda – surge da falta de orientação. Identificação e punição dos transgressores se fazem necessárias, mas as autoridades administrativas devem encará-las como medidas posteriores à realização de ações educativas que expliquem à população por que e como zelar pelo patrimônio público da cidade. Para construir uma Fortaleza Bela é imprescindível formar cidadãos conscientes, que possam trabalhar junto às autoridades competentes.

por Beatriz Costa Ribeiro